Nem sei quantas vezes ouvi esse questionamento vindo da minha mãe. Sempre que ela estava indignada com algo, ela fala essa frase: aonde esse mundo vai parar?
Ela já se foi e talvez hoje, melhor que eu, possa responder para onde esse mundo vai parar, pois eu ainda continuo procurando e pior, não estou achando.
Quase todos os dias faço o mesmo questionamento e quase nunca encontro respostas. Perplexo, atônito e com mais algumas dezenas de adjetivos sinônimos, assisto aos últimos acontecimentos no Brasil e no mundo. É tanta violência, é tanto roubo, é tanta falta de caráter e, como também dizia meu pai, “falta de vergonha na cara mesmo”, que tem horas que fica difícil imaginar, por mais criativo que se seja, qual será nosso futuro, se é o que o teremos.
Grandes filósofos e pensadores já tentaram responder a essa questão, todos sem sucesso e, portanto, não serei eu a querer desvendar esse grande mistério da humanidade. Mas, seria mesmo um grande mistério? Sou da área de exatas, por formação, portanto, lógica sempre foi, para mim, instrumento de trabalho e, por lógica, vejo que não há grandes mistérios a serem respondidos e sim, somente fatalidades matematicamente calculadas.
Vamos pensar um pouco juntos sobre algumas situações, na verdade, notícias que estão em alta no momento. No dia 28/04/2013, li uma reportagem que não sei se seria motivo para riso ou lágrimas. O nobre empresário Carlos Augusto Ramos (Carlinhos Cachoeira, para os íntimos), foi preso, pois se recusou a fazer o teste do bafômetro. Não sei quando você estará lendo essa notícia, portanto, algumas contextualizações são importantes. O dito empresário já foi condenado, em 2012, num processo movido pelo Ministério Público, pois, segundo fatos concretos e julgados, este nobre senhor chefiava jogos ilegais e um grande esquema de corrupção entre funcionários públicos. Sentenciado a 39 anos de prisão, recorre do processo em liberdade e hoje, dia 28/04/2013, foi preso novamente. Você acha que ele está na cadeia? Nem pensar, ele pagou mais uma fiança, agora de R$ 22 mil reais e está em liberdade novamente. À polícia, ele disse que tinha acabado de sair de um show do Gusttavo Lima. Além de ser preso por estar dirigindo embriagado, deveria também ser processado por ter mau gosto, mas enfim, não é a essa a nossa questão aqui.
O que me deixa indignado e me faz perguntar aonde esse mundo vai parar é essa situação estapafúrdia, onde um já condenado num processo, é preso novamente por outro delito, que poderia incorrer na vida de outras pessoas inocentes e continuar solto?!
Ainda nesses dias, uma outra notícia que chocou a mim e a toda pessoa de bom senso foi um assalto praticado em São Bernardo do Campo, onde uma dentista foi queimada viva, pois tinha somente R$ 30,00 em sua conta bancária, fato que irritou um dos assaltantes e, para puni-la por esse absurdo que era não ter dinheiro para o assalto, resolveu queimá-la viva. Acredito que não existam palavras que possam expressar essa barbárie. Tem horas que começo a duvidar que a humanidade evoluiu. Para mim, continuamos na idade da pedra, pelo menos moralmente falando! O “show” romano, de atirar pessoas para serem comidas vidas por leões, continua acontecendo, somente mudamos o animal e o palco, mas o show de horrores é o mesmo, portanto, fica o questionamento: no que foi mesmo que evoluímos?
Para completar o circo, um menor de idade assumiu ter ateado fogo na dentista e, por ser menor de idade, não pode ter seu nome e foto divulgados, além de somente ser encaminhado para um local de “reabilitação” e, ao completar a maioridade, será devolvido as ruas, sem qualquer anotação em seu histórico. Sei que o ponto é polêmico, mas mais polêmico que uma pessoa ser queimada viva por não ter dinheiro é impossível e, particularmente, também sou contra a redução da maioridade penal. Antes que comece a me criticar, vou explicar: sou contra a redução, mas sou a favor da extinção! Sim, isso mesmo, pois para mim, se uma pessoa tem maturidade suficiente para queimar outra viva, pouco importa a idade que ela tenha, teria que ser condenada da mesma forma, pouco importando se tem 17 ou 12 anos.
Medidas socioeducativas? Sim, o discurso é bastante bonito e enche os olhos, no entanto, na prática, quais seriam essas medidas? Na prática, o dito adolescente tem mais tempo para aprimorar suas técnicas de crueldade e sai doutorado na prática do crime.
Vejo que hoje não precisamos de medidas educativas, precisamos de medidas de contenção para, num futuro, voltar a pensar em socialização. Sou educador, pelo menos me considero, acredito que somente uma boa formação moral e educativa vai produzir seres humanos melhores, mas hoje, diante de tanta barbárie, vejo que não estamos em condições de negociar, precisamos agir, estancar essa hemorragia que está acabando com o mundo. Remédios amargos normalmente são os melhores e talvez esse seja o momento de termos que tomar um remédio bastante amargo, para somente depois, podemos aliviar o restante das dores com algumas pastilhas, pois por hora, é tratamento de choque mesmo.
Sei que existem muitas questões sociais em torno do assunto e que esse tema é bastante abrangente, entendo que realmente temos que mudar o mundo pelas atitudes, mas impedir o mal também é necessário, afinal, de que adianta ficar no discurso bonito enquanto, todos os dias, inocentes são queimados vivos, crianças são esquartejadas sendo arrastadas por carros em fuga de assalto. Para quem não se lembra, estou falando do João Hélio Fernandes, de apenas seis anos e que foi arrastado, em 2007, por ter ficado preso ao cinto de segurança enquanto os ladrões fugiram e o arrastaram por cerca de quinze minutos. Essa pobre criança também não merecia viver? Também não merecia o cuidado do Estado, que mais uma vez se omitiu?
“Ah, mas a violência sempre existiu”, dizem alguns. Pois para mim esse é mais um ponto que nos leva a pensar no porque ainda não agimos. Até quando vamos esperar? O que falta acontecer ao ser humano que será capaz de tira-lo de estado de letargia?
Sou daqueles que acredita piamente que se o governo construísse mais escolas, não precisaria gastar com presídios e que um giz é mais barato do que uma bala de revolver, mas o que está sendo feito? Nem uma coisa e nem outra, é o que vejo. Existem questões sórdidas nos bastidores da política e que fazem com que as coisas caminhem para esse abismo, mas e nós, fazemos o que? Nada! Nos indignamos, derramamos algumas lágrimas diante da matéria, exibida em rede nacional para dar IBOPE, afinal, nada melhor do que uma boa desgraça para elevar a audiência e seguimos nossa vida, como se nada tivesse acontecido, afinal, não foi comigo. No entanto, pode ser que um dia seja comigo, com você e ai, seremos nós a irmos para TV, dar entrevistas, clamar por justiça, dizer que a morte do nosso filho ou ente querido não seja em vão, que a justiça seja feita. Mero discurso vazio e solitário, pois a grande maioria continuará a não se importar.
Nosso governo já sabe disso, nossas autoridades idem e, exatamente por isso, nada muda, pois já é conhecido que bastam alguns dias para tudo voltar a normalidade ou alguém ainda está indignado com o incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, RS, no dia 27 de Janeiro de 2013? A justiça até que está caminhando nesse caso, houveram indiciamentos, mas particularmente, estou tal qual São Tomé, ou seja, só vendo para crer que algo será feito e, ainda que seja, que será cumprido. O fato é que muitos continuam colocando em risco a vida de outros jovens, em muitas outras boates pelo Brasil e mundo a fora, até que outro evento aconteça, afinal, esse incêndio não foi o primeiro e, infelizmente, não será o último.
Creio que poderia escrever um livro somente relatando casos parecidos e que ficaram sem qualquer solução ou que nada mudaram, mas o ponto de questionamento é outro, é sobre o nosso papel. Sabe a pergunta inicial, de para onde esse mundo está indo? Pois bem, eu creio que ele está indo para onde o estamos levando. Lembra da tal da lógica matemática que falei? É isso, como podemos esperar resultados diferentes fazendo sempre a mesma coisa? Isso já foi atribuído a Einstein e não sei se realmente o pensamento é dele, mas seja de quem for, é verdadeiro, pois existe maior insanidade do que isso, ou seja, não fazer nada e esperar que as coisas mudem?
Ando perdendo um pouco a fé no ser humano, é verdade. Ultimamente tenho me questionado muito sobre vários aspectos: será que estou perdendo minha fé? Será que estou certo ao pensar dessa forma? Não sei mesmo, só sei que é fato que minha convicção no ser humano diminui a cada dia, pois as pessoas estão me cansando. Será que só eu sinto isso? Penso que não..
Quer ver outro grande exemplo de que a humanidade está se afundando: trânsito. Existe algo mais irritante do que dirigir em grandes cidades? As pessoas parecem estar alucinadas, fora de controle totalmente e, na verdade, penso que o volante é a arma que elas têm em mãos, pois se fosse um revólver, poucos sobreviveriam. Por outro lado, o trânsito também mata e muito e fico pensando na grande maioria dos acidentes, que sempre são causados por imprudência, por estupidez mesmo. O grande egoísmo de achar que tudo pode, afinal, EU estou atrasado e preciso chegar, EU estou cansado e vou para casa rápido, EU preciso parar na vaga do deficiente, mas é só por minuto, EU preciso parar em fila dupla na frente da escola, enfim, uma coletânea de EUS que normalmente acabam em tragédia. Os motoristas não respeitam sinais, placas, faixas de pedestres e qualquer outro tipo de Lei, pois julgam-se acima dela, são mais importantes que todo o restante e, por isso, podem fazer o que quiserem, até que alguém também fira a um parente ou filho dele, pois ai a coisa muda de lado, mas e enquanto era com os outros, o que você fez?
O transporte público também é outro ponto interessante de se analisar, como por exemplo, os ônibus. Um dia desses vi numa rede social, uma charge tragicômica, pois dizia que idosos, deficientes e mulheres grávidas causavam sono. É verdade, já percebeu quantas pessoas “dormem” nesses lugares, só para se fazer de desentendido e não dar seu lugar para outro em situação mais complicada? Só que são exatamente essas pessoas que cobram um governo mais justo, que querem direitos iguais a todos, que se revoltam diante de fatos do cotidiano, que ficam indignadas quando alguém faz o mesmo com elas. Para mim, uma única palavra resume tudo isso: hipocrisia.
Queremos um mundo com menos corrupção, mas não hesitamos em fornecer um suborno a um fiscal ou agente de trânsito. Queremos políticos mais honestos, mas torcemos para o nosso candidato ganhar para garantir uma “vaguinha”. Costumo dizer que políticos não são alienígenas, são apenas nossos pares, eleitos por nós e para fazer aquilo que queremos e deixamos que ele faça. A corrupção e a falta de caráter dele somente reflete a corrupção e falta de caráter que está presente na grande maioria das pessoas. Eu sei que existem pessoas honestas e que buscam por um mundo melhor, de fato, aliás, me julgo uma delas, mas e ai? A pergunta é a mesma: o que estamos fazendo também?
Silenciar é compactuar, não agir nos torna cúmplices. Sim, isso me angustia muito, pois tem horas que percebo que também não estou fazendo nada ou, pelo menos, muito pouco. Uma vez também li que devemos nos preocupar menos em deixar um mundo melhor para as pessoas, e sim, nos preocuparmos mais em deixar pessoas melhores para mundo.
Caso não tenhamos mais atitudes, caso não consigamos mudar e, mais que isso, promover uma mudança, esse mundo vai, também usando uma palavra que minha mãe usava muito, vai é para o “beleléu”.