Você se considera uma pessoa normal? Qual o limite entre a loucura e a lucidez?
Particularmente, penso que a linha que separa a loucura da lucidez é muito tênue e, em dados momentos, me questiono se vale a pena ser muito lúcido. Tem horas que acho que precisaríamos ser um pouco mais loucos, ou pelo menos, ter a coragem de falar mais, de reagir mais, de não permitir certas atitudes que somente fazem mal.
Vale a pena ser polido e sensato num mundo onde impera a hipocrisia, a falsidade e a animosidade? Cada um que responda por si, mas, mais uma vez, vejo que perdemos o ponto de equilíbrio dessa relação.
Em nome da lucidez, da sensatez e da boa educação, nos permitimos ser invadidos por toda falta de educação e loucura alheia, de pessoas sórdidas e vis que se aproveitam exatamente da sensatez dos demais, pois estes “loucos” já sabem que os demais não vão reagir, seja pela personalidade de cada um, que o louco (ou oportunista) bem conhece, seja pela posição que os dito loucos ocupam (que julgam ser muito importante). Os loucos gritam, os sensatos se calam, os loucos ofendem, os sensatos interiorizam as ofensas e, naturalmente, depois sofrem as consequências. Os loucos cada vez mais ganham espaço e esbravejam suas loucuras sem nexo, por puro prazer e os sensatos, em nome “da moral e dos bons costumes”, aceitam. Me questiono: quem é o louco da história?
Loucura é a maioria das pessoas aceitar e se subordinar a meia dúzia de desequilibrados, loucura é um país com aproximadamente 195 milhões de pessoas se sujeitar a alguns políticos corruptos que fazem o querem, quebram regras, desviam dinheiro público e agem no comando como crianças mimadas com seus brinquedinhos, que no caso, é o nosso país e o dinheiro público. Vamos supor que, no país inteiro, tivéssemos 20 mil políticos eleitos (acredito que esse número seja menor). Você já fez as contas, em pontos percentuais sobre isso? Eu já, significa que aproximadamente 0,00011% da população desse país faz o que quer e os demais 99,999989% (que somos nós), aceitamos com toda a naturalidade, pois segundo o discurso mais sem nexo que já ouvi, “não há o que fazer?”. Como não há o que fazer? Somos 99,999989% e isso para mim é maioria esmagadora ou eu estou louco? Ainda que minhas estimativas estejam erradas e o número de políticos seja maior, ainda assim, continuariam a ser alguns zeros à esquerda. Você já pensou nisso?
Alguns podem argumentar dizendo que isso é poder e que a coisa funciona assim, no velho ditado que também acho ridículo do “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Pois também digo que isso não é poder, é tirania e tirania não tem nada a ver com poder. Poder está relacionado a autoridade moral, a conquista. Poder por poder, ou seja, pelo simples fato de mandar, de ditar regras, não constitui um Estado, não constitui uma Empresa, não constitui uma Sociedade justa. O argumento de manda quem pode e obedece quem tem juízo só explica uma coisa: o ser humano não sabe os direitos que tem, não sabe o poder que está em suas mãos, pois o dia em que descobrir isso, pessoas que pensam dessa forma serão extirpadas tal qual se faz com um apêndice infeccionado, pois tal qual o apêndice, não possuem função nenhuma, não servem para nada além de infeccionar e causar dor e, assim como o apêndice infeccionado, se não forem extirpados, podem provocar a morte, por um processo conhecido como septicemia, ou infecção generalizada. E essas pessoas têm essa capacidade, são muito boas no que fazem e, de fato, conseguem infectar todo um ambiente, toda uma nação e o remédio para isso é cirúrgico, mas tem tratamento, embora o tratamento não possa ser feito por qualquer um, que a exemplo do apêndice, requer conhecimentos médicos. Extirpar essas infecções da sociedade também requer conhecimentos específicos, um conhecimento chamado EDUCAÇÃO, que cada vez está mais distante das pessoas. Antes que venha o também velho e batido discurso de que a culpa é somente do Governo, não concordo com isso também. Para mim a culpa é de todos, principalmente da família, que se perdeu e deixou de passar aos seus filhos valores morais e éticos.
O conhecimento está em toda parte, basta buscá-lo e isso independe de escola, isso independe de Governo, isso depende sim, de cada um de nós, dos nossos valores e daquilo que queremos. A questão é que a sociedade relega ao próprio Estado o dever de educar seus filhos, como se a escola é que tivesse a obrigação de ensinar o básico, que é o respeito aos princípios éticos e morais. Há uma inversão de valores e uma manipulação de informações que é nojenta e, nesse ponto, a mídia tem boa parcela de responsabilidade, pois serve à Máquina e aos interesses próprios, contribuindo para a alienação generalizada da massa de pessoas que preferem não pensar e sim, somente engolir aquilo que os jornais mostram como verdade absoluta. Hoje pela manhã ouvi, em um noticiário de grande audiência nacional, que alunos da rede pública de Brasília gravaram um vídeo fazendo “bagunça dentro da sala de aula” e que, segundo a matéria, os alunos que apareciam nesse vídeo fizeram isso em forma de protesto, por estarem revoltados com a falta do professor. Caros “hipnotizadores” desse meu Brasil, até a estupidez tem limites! Já lecionei em escolas públicas, por isso, posso falar com conhecimento de causa que a bagunça hoje é generalizada, com ou sem professor, aliás, o que é o professor nesse nosso contexto atual? Já se perguntaram que talvez a lógica seja inversa e o professor não estivesse em sala de aula, pois não aguenta mais tamanho desrespeito e desvalorização da sua profissão?
Fico impressionado e ao mesmo tempo, extremamente decepcionado com o que vejo atualmente, em como as pessoas se deixam manipular, em como 99,999989% da população acha que não tem poder algum e que nada pode fazer e em como esses 0,00011% conseguem manipular as coisas de tal forma e conseguem fazer com que isso se pareça verdade.
É bem verdade que sozinho ninguém faz nada, mas convenhamos, não estamos sozinhos, só querem que pensemos que estamos e o que é pior, estão conseguindo.
Renato Russo, que como já sabem, admiro, foi autor de uma letra, dentre tantas outras, que acho bem apropriada para esse momento. Diz ele: “Até bem pouco tempo atrás, poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem?”. Realmente me pergunto isso todos os dias, quem roubou nossa coragem, quem nos calou de tal forma que hoje sequer conseguimos falar o básico? Mais que falar, quem roubou nossa coragem de agir, de lutar, de buscar uma situação melhor?
Confesso que não sei, somente tenho algumas teorias, mas para não parecer teoria da conspiração, prefiro que cada um ache suas respostas e responda a si mesmo: quem foi que roubou sua coragem? Dentro desse raciocínio é que questiono a loucura e a lucidez. Claro que sou a favor à lucidez, mas por sua vez, lucidez também significa brilho, claridade, nitidez, precisão de ideias e isso vejo que também não ocorre com muita frequência. Hoje penso que não vivemos nem a loucura e nem a lucidez, vivemos um torpor que nos retira os sentidos, que nos incapacita e nos paralisa. Resta saber até onde esse torpor vai e até onde vamos deixar que os loucos assumam o poder da situação.
Hoje vejo que chegamos a um limite, pois as pessoas de bem estão saturadas com tanta impunidade, com tanta violência, com tanta falta de caráter e, utilizando-me da figura que sempre é mostrada em vários filmes épicos, onde o mocinho sofre, apanha, cai machucado e sangrando, por vezes até semiconsciente, mas que quando chega a esse ponto encontra forças para reagir e mudar a situação, enfrentando o seu oponente que acaba sendo vencido pelo “fraco”. A outra opção? Fechar os olhos e partir, deixando o mal vencer, mas como isso não é muito comum na ficção, espero que também não o seja na vida real, espero que nesse ponto, a vida imite a arte.
Quando o sol bater na janela do teu quarto – Legião Urbana