O mundo ensandeceu e eu posso provar!
Tenho a constante sensação de estar preso dentro de um capítulo de uma série com temática qualquer que aborda a distopia, como Dark, por exemplo. Não sei se Dark é o melhor exemplo, afinal, mesmo dentro da distopia, tem horas que a realidade lá era um pouco menos caótica do que a nossa.
Embora tenha falado pouco sobre política e quaisquer outros assuntos, estou antenado ao que acontece, assisto noticiários, análises geopolíticas e fico sempre me perguntando: para onde foi aquele mundo que eu nasci e conheci?
Será que a humanidade foi abduzida e colocaram clones da Raquel no lugar da Ruth? Aos que não entenderam a referência, joguem no Google, foi um clássico da telenovela brasileira.
É muito estranho como muitas pessoas se transformaram, se tornaram azedas, amargas, raivosas. Pessoas com as quais convivíamos há tempos, que pareciam ser pessoas “normais”, mas que de repente, mostraram um lado sombrio, pesado.
Não me convence o discurso de que foram as redes sociais que causaram todo esse estrago. Acredito que ela influenciou e facilitou a proliferação do discurso do ódio, do rancor, da ira, mas elas não foram a causa, só potencializaram um pouco.
Existem muitos caminhos que podemos percorrer para tentar entender e explicar esse surto quase coletivo, esse ambiente tóxico em que estamos imersos e que nos envenena constantemente. Tenho minhas opiniões, mas não tenho a pretensão de encerrar nesse texto nenhuma possibilidade, até porque, acredito que sejam diversos fatores combinados e não uma causa em particular. Falarei sobre um ponto nesse texto.
Sou crítico das religiões não é de hoje e cada vez mais me convenço que elas causam muito mais mal do que bem. Sei que é polêmico, sei que vou ser cancelado, mas… já cheguei naquela idade em que me importo muito pouco com o que pensam sobre mim.
O fato é que as religiões, de uma forma geral, tolhem todos os tipos de sentimentos e impulsos humanos, principalmente os impulsos sexuais. Mas não somente isso, elas condenam a preguiça e com isso nos empurram para um regime de trabalho insano, que não nos permite ter vida além do próprio trabalho, mas elas também dizem que o trabalho dignifica o homem. A título de curiosidade, Hitler também colocou essa inscrição na entrada dos campos de concentração.
Também nos fazem aceitar que essa vida é de sofrimento, que somos castigados porque Eva, lá no início da criação, comeu uma maçã após ser tentada por uma cobra que falava. Pô, tudo isso por uma maçã? Se pelo menos fosse por algo mais gostoso, tipo um bacon, mas uma maçã? Duro é o povo falar que não sabe como explicar o relacionamento homossexual para os filhos… meu querido, você acredita numa cobra que fala, dá seus pulos!
Enfim, toda doutrina religiosa se fundamenta, basicamente, na sublimação dos nossos impulsos, na aceitação incontestável de uma verdade absoluta, imutável e inquestionável e eu poderia ficar páginas e páginas enumerando o que penso sobre o assunto, mas só isso que citei já são motivos mais do que suficientes para criar uma insatisfação e frustração gigantescas no ser humano.
Você pode não ter essa consciência e me achar um herege por falar isso, mas eu acredito que toda essa frustração, tanto sexual, quanto financeira, quanto de qualquer outro tipo, tudo em troca de uma vida eterna de paz, cânticos e amor incondicional, vão acabar gerando transtornos e nossa mente vai achar alguma forma de extravasar tudo isso, como mecanismo de defesa e sobrevivência, aceite você isso ou não.
Essas frustrações vão se transformando em rancor, em ódio ao diferente, que não por acaso, as maiores vítimas de ataques da intolerância são os que possuem coragem de assumir quem são e viver uma vida plena.
Como um frustrado pode aceitar que outra pessoa viva tudo o que ele não teve coragem de viver? Como alguém pode ter tudo o que ele não teve, mas que não teve coragem e forças para mudar, afinal, lhe foi dito que a cobiça é pecado, que a luxúria é pecado, que ele precisa se resignar com o que tem e agradecer porque outros estão sem situação pior do que ele!
Aliás, faço aqui um parêntese, acho essa explicação uma das coisas mais absurdas e sem sentido que um religioso pode falar. Como é que eu tenho que me conformar com algo porque meu semelhante está pior do que eu? Desculpe-me, não dá. Eu já acho que teríamos que brigar para mudar a situação dos dois e não ficar falando “amém”.
Esse rancor acumulado uma hora explode. É igual uma panela de pressão com a válvula entupida, a coisa vai acumulando, acumulando e chega uma hora que ela arrebenta e a sujeira vai todos os lados.
O que vemos hoje são muitas pessoas “panela de pressão”, que estão explodindo, deixando vir à tona tudo o que foi reprimido durante uma vida toda. Claro que ela não vai aceitar e se colocar na posição de imperfeita, então resta o quê? Eliminar todos os que não são iguais a ela, pois dessa forma, ela deixará de ser incomodada e passará a viver somente entre seus pares, sem tentações para lhe desvirtuar do caminho do paraíso.
Porém, a vida não é tão simples e essa eliminação não se dará por meios naturais. Diante disso, chegamos ao ponto em que novas forças são colocadas no jogo. Começa a perseguição ideológica, a fusão entre Estado e Igreja, que é algo que a História já comprou que não dá certo.
O que vemos hoje é exatamente esse acirramento de ânimos, essa escalada dos Jogos Mortais, onde o objetivo é eliminar o outro, seja esse outro quem for. Não existe mais tolerância, compreensão, apenas uma fé cega em líderes religiosos que deveriam estar atrás das grades, pois a única coisa que não fazem é pregar a paz.
A fé, por sua vez, foge ao campo da racionalidade e entra no místico, no intangível, no impalpável e, nesse ponto, o jogo está praticamente perdido, pois como argumentar com algo que está no campo das ideias? “Ah, foi a vontade de Deus” e isso encerra a discussão. Será mesmo?
A religião sempre foi usada como instrumento de dominação e contenção das massas, sempre através do medo, da imposição, do aniquilamento do pensamento crítico e da aceitação passiva. É o instrumento perfeito para criar seres humanos frustrados, medrosos e dispostos a matar pelo que acreditam, afinal, se tudo já lhes foi tirado e essa vida futura é tão boa, melhor ir logo ao encontro dela.
Eu acho esse Deus que as religiões pregam uma das maiores aberrações que já foram criadas pela mente perversa do homem. Como pode existir um Deus tão bondoso que tolera guerras, extermínio em massa, mortes de crianças, fome, entre tantas outras desgraças?
Isso é um ser amoroso? A mim, parece-me muito mais um psicopata, sádico, egocêntrico e perverso, que não tolera nada que não seja a vontade dele mesmo, portanto, não me venha falar em amor numa ser desses.
O assunto é polêmico, é extenso e eu sei que não vai mudar nada, mas hoje, depois de muito pensar, ler e buscar explicações para a insanidade do mundo atual, acredito piamente que as religiões são sim, uma das maiores causas de todo esse mal.
Não se preocupe com meu lugar reservado no inferno, sou consciente do que falo e, sinceramente, acho ótimo ter um lugar reservado, ainda que no inferno, pois detesto filas.
Te proponho um desafio: pense. Não com o pensamento do padre da sua igreja, ou do pastor do seu templo, pense você por você mesmo. Se você não estivesse imerso numa religião, sua vida hoje seria a mesma? Você teria feito as mesmas escolhas que fez? Não importa se as escolhas foram melhores ou piores, importa é que você não definiu pelo que queria e terceirizou o controle da sua vida. Isso te frusta, aceite você ou não.
Se você é um frustrado, a vida do outro começa a te incomodar, a felicidade e liberdade do outro te irrita, o diferente te causa pânico e daí para o extremismo que impera em nossa sociedade atual, é apenas uma questão de tempo e esse tempo já chegou.