Faz tempo que não escrevo uma reflexão ao final do ano, aliás, faz tempo que não escrevo nada, mas hoje senti aquela necessidade de colocar alguns sentimentos no papel.
Esses últimos anos foram anos de muitas perdas, de muitos sentimentos ambíguos, de sofrer ausências e não foram poucas. Esse ano também não foi diferente, aquele brilho que o Natal tinha, parece que já não existe mais.
Algumas casas ainda se preparam, o colorido das luzes ainda se fazem presentes, mas o entusiasmo, esse já se foi. Oficialmente, estamos passando por duas guerras, então, isso por si só, já explica esse clima pesado que paira no mundo, além das nossas guerras pessoais, daquelas batalhas que travamos todos os dias.
Evidentemente, também existem coisas boas acontecendo, mas uma coisa não compensa e nem anula a outra. O ser humano é mais do que um cálculo matemático.
Não se trata de ingratidão, de revolta sem causa ou de falta de Deus, como sempre aparecem alguns dizendo. Aliás, nem vou entrar no campo religioso para não começar uma terceira guerra logo hoje.
Falarei por mim, pelos meus sentimentos, pois não posso dizer por mais ninguém. O que me deixa entristecido não são os altos e baixos da vida, afinal, a vida é isso, não existe linearidade enquanto se respira e nossos próprios gráficos de batimento cardíaco deixam isso explícito.
A vida se constitui de momentos bons e momentos ruins e seria muito fácil fazer uma somatória deles e ver quem ganhou e isso determinaria sua condição de triste ou feliz, mas não funciona assim.
O que me entristece é constatar a efemeridade dos sentimentos humanos e a volatilidade das relações. É certo que tudo é eterno enquanto dura, mas ultimamente as coisas têm durado tão pouco.
Sempre fui uma pessoa de sentimentos intensos, não sei ser morno, quando vou fazer algo, vou de cabeça, mergulho mesmo, então, entender essa falta de compromisso com tudo e com todos é algo que não é corriqueiro para mim.
Tenho a impressão de que o sistema capitalista capitalizou todas as relações, que deixaram de ser afetivas e se tornaram de interesses comerciais, financeiros ou de suporte emocional, onde o outro te importa até que você precise dele para algo, depois, num piscar de olhos, descarta-se tudo e vida segue.
Ainda me assusta a forma grosseira como as pessoas se tratam, isso mesmo entre pares de um mesmo grupo de afinidades qualquer, mas basta uma discordância pontual de algum consenso que pronto, começa a execração impiedosa.
Renato Russo já cantou que “a humanidade é desumana”, mas ele também disse que “ainda temos chance”, fato que hoje eu já não sei se concordo. Não com a parte de sermos desumanos, mas de ainda termos chances, pois começo a achar que não temos mais.
Essa época do ano sempre me deixou mais reflexivo, mais sensível, assim como, tantas outras pessoas, mas não estou naquela fase das reflexões fofas e carregadas de otimismo. Não quero perder a fé na humanidade, até porque, faço parte dela e se eu perder completamente minhas convicções, me perco em minhas próprias incertezas, mas não tem sido fácil manter a esperança.
Esse foi um ano intenso, tive conquistas muito boas e importantes, mas também tive perdas difíceis, como a do meu companheiro Beethoven, que nos deixou depois de quatorze anos.
Revisitei meu interior várias vezes, mexi em pontos delicados, mas uma coisa venho aprendendo um pouco mais a cada ano: pessoas chegam e pessoas se vão das nossas vidas de uma forma muito rápida e não procuro mais explicação sobre como ela chegou e, menos ainda, porque ela se foi.
Aos que chegam, sejam bem chegados e que possamos crescer juntos. Aos que se vão, obrigado pelas lições ensinadas e sigam seus caminhos, que seguirei o meu.
A cada um, dentro das suas crenças pessoais, boas comemorações!