Meritocracia

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Meritocracia – uma das maiores falácias criadas pelo sistema capitalista para convencer o pobre, de que a única culpa por sua pobreza, é dele mesmo.

A palavra meritocracia remete a uma ligação direta entre mérito e poder, ou seja, tem mais poder quem tem mais mérito, quem se esforça mais, quem se dedica mais e quem é intelectualmente mais preparado.

Numa análise inicial e superficial, não há nada de errado no conceito, pelo contrário, seria justo recompensar quem se dedica de forma mais empenhada a qualquer coisa, afinal, seria o reconhecimento pelo próprio esforço.

Mas essa falácia não se sustenta e vamos discutir um pouco os motivos para isso. Poderíamos sim, falar em mérito, se todos os concorrentes partissem de um ponto comum, em condições de igualdade, mas não é o caso de nenhum sistema capitalista.

Para fins didáticos, vamos estabelecer uma comparação com uma corrida de 5000 metros. Suponha dois concorrentes, sendo que um deles foi treinado por meses e meses para o desafio, possui roupas adequadas, calçados que minimizam o impacto da corrida, além de uma alimentação equilibrada, supervisionada por uma equipe de nutricionistas.

Já o segundo concorrente, não tem nada disso, vai correr descalço, se alimentou muito mal e não teve nenhum preparo prévio. Pode complicar mais? Pode sim. Suponha que esse candidato sem preparo algum vai largar o ponto zero e o candidato mais preparado vai largar do ponto do meio, ou seja, já com 2500 metros de vantagem.

Bom, você pode pensar que ao menos o candidato que vai largar do ponto zero vai ter um acréscimo de tempo, para poder compensar tamanha injustiça, mas você descobre que não, ambos vão largar juntos, mas um já com 2500 metros à frente. Essa é a meritocracia, que querem que você engula como algo justo.

Quem você acha que tem mais chances de ganhar essa corrida? O candidato menos preparado pode ganhar? Talvez, por uma razão desconhecida da natureza, de uma força descomunal, talvez até sobre humana, ele consiga vencer, mas convenhamos, suas chances são mínimas, ínfimas.

Mas o sistema capitalista não se contenta em premiar o candidato mais favorecido e cheio de privilégios, ele precisa humilhar o candidato com menos chance, fazendo com que ele se sinta o único responsável pela sua derrota, afinal, as condições eram as mesmas e ele só não venceu porque não se esforçou o suficiente. Para ser bem delicado e breve, vou chamar de hipócrita esse discurso.

Voltando agora à realidade, vamos pegar esse exemplo e extrapolar para situações cotidianas. Vamos pegar dois jovens que queiram cursar medicina.

Um deles só estuda, tem uma família equilibrada financeiramente, fato que lhe permite a ter acesso a um bom colégio, com professores e recursos didáticos adequados, onde ele pode se dedicar integralmente aos estudos. Em casa, ele tem um quarto só dele, com boa iluminação, Internet de alta velocidade e não precisa se preocupar sequer em arrumar sua própria cama, pois seu foco tem que ser estudar.

O outro candidato não tem nada disso, estuda em escolas públicas sem nenhum tipo de recurso, que infelizmente é a realidade da maioria delas, onde os professores, por mais empenho e boa vontade que tenham, não possuem recursos mínimos para desenvolver uma didática mais interessante e atrativa. Esse aluno possui uma família com pais desempregados e na sua casa não há sequer comida, sendo a escola uma das suas fontes de uma alimentação decente.

Em casa, não há condições mínimas, ele divide o quarto com mais quatro ou cinco pessoas, a iluminação é péssima e ele sequer tem um computador em casa. A internet é a do celular, limitada e que não lhe possibilidade ter acesso a pesquisas e conteúdos extracurriculares.

Esses dois jovens têm condições iguais? Isso é o que a tal meritocracia prega, ou seja, ela ignora toda a história de vida das pessoas e julga só o resultado final. Os poucos que conseguem superar todos os obstáculos são transformados em exemplos de superação, em pessoas que se dedicaram e romperam as barreiras. Claro que há mérito em quem superou tudo isso, aliás, existe um mérito muito maior, mas volto ao ponto central: quantos conseguiram superar tudo isso?

São justas as condições em que ambos disputam? Um é um peixe de aquário, nadando em águas conhecidas e calmas, em condições perfeitas, já o outro é um peixe perdido no oceano em meio a um tsunami.

Reafirmo, o discurso meritocrático é tão somente mais um recurso de dominação ideológico, repetido a exaustão, para fazer com que os menos favorecidos, além da frustração de não conseguirem progredir, ainda se sintam culpados por isso!

Os adeptos ao discurso da meritocracia adoram pegar exemplos de pessoas bem-sucedidas, mas que na sua grande maioria, não partiram do nada, inclusive, muitos desses “bem-sucedidos” já nasceram em famílias muito ricas e aí tudo fica mais fácil, não é mesmo?

Para começar a dar legitimidade ao discurso meritocrático, proponho, por exemplo, o fim das heranças. Isso mesmo, afinal, qual é o mérito de alguém que já nasce sabendo ser herdeiro de um império? Como se diz: “ele que lute” para conseguir sua própria fortuna! Isso é mérito.

Vamos pegar o dinheiro das grandes heranças e aplicar em educação de massa, financiar projetos de pesquisa e tecnologia, dando condições a todos de ter uma formação de base sólida. Vamos garantir o mínimo da dignidade e dos recursos necessários à sobrevivência e, somente então, poderemos realmente começar a discutir o que é mérito e o que não é.

Enquanto isso não ocorrer, jamais vou engolir esse discurso burguês, esse papinho hipócrita de quem já nasceu privilegiado e se julga mais merecedor dos que os outros.

Se você ainda não conseguiu o que queria, por favor, não se culpe por isso. Se dedique, é claro, dê o seu melhor, se esforce, mas saiba que esse discurso que te venderam é enganoso, é falacioso e é absurdamente hipócrita!

Enquanto o mais favorecido é educado para perpetuar a riqueza, o pobre é educado para perpetuar a pobreza. O rico é formado para ser empreendedor, montando startups milionárias, enquanto o pobre é iludido com o discurso de que ser empreendedor é fazer entregas pelo iFood, ser motorista do UBER ou vender balas em semáforos, sem qualquer tipo de garantia social e trabalhista!

Muito cuidado com os discursos que te vendem e mais atenção ainda aos discursos que você compra.

Rebelar-se contra essa falácia é um dever de todos que são os verdadeiros merecedores, mas que são menosprezados por um sistema que só privilegia aos que já nasceram privilegiados!

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