Em que ano estamos? Em qual século estamos?
Estranhou as perguntas? De fato, parece loucura alguém se perguntar isso.
Normalmente começo meus dias me atualizando sobre os últimos fatos acontecidos, tanto no Brasil como no mundo, afinal, acredito que devo estar minimamente por dentro do que está acontecendo ao meu redor. Por outras vezes, penso ser esse meu maior erro….
Enfim, começo a ler as notícias e, senão pelo fato de estar usando dispositivos eletrônicos e a internet como meio de informação, questionaria a minha própria lucidez, achando que, tal qual em alguns seriados, tinha entrado em algum portal e voltado alguns séculos no tempo e espaço.
Falarei da minha impressão, com a qual, naturalmente, você não será obrigado a concordar, no entanto, também digo que, ainda que para discordar, a educação e o respeito são fundamentais, do contrário, se transformam em ataques gratuitos que não levam a nada, aliás, levam sim, me levam a clicar no botão bloquear e te banir daqui, não por divergência de ideias, pois convivo bem com elas, só não convivo muito bem com a falta de educação e a arrogância.
Voltando ao assunto, minha impressão é a de que vivemos um verdadeiro culto à mediocridade. Como regra, cada vez mais as pessoas se contentam com menos, em suma, com aquilo que é medíocre.
Vivo alguns dilemas em minha mente, como por exemplo, como pode, em plena era da informação, tolerarmos tantas mentiras? Assim como muitos, sou da época em que obter uma informação não era algo tão simples, você tinha que ir até uma biblioteca, pegar livros e se debruçar sobre eles. Esses livros nem sempre eram tão atualizados e, não raro, as informações e conhecimentos adquiridos já eram obsoletos.
Hoje em dia, cada vez mais, as informações nos saltam ao alcance de meros cliques, quando não chegam sem nenhum esforço. Por outro lado, esse é exatamente o dilema: ganhamos em quantidade, mas será que não perdemos em qualidade?
Ficou mais fácil ter acesso e a Internet é, sem qualquer dúvida, uma das melhores ferramentas inventadas, pois sem digitar praticamente nada, pode-se obter acesso a tudo e, acredite, quando digo tudo, não é exagero.
Ironicamente, essa facilidade trouxe comodidade e a comodidade, por sua vez, trouxe a mediocridade, que se espalha com a força de um vírus, atingindo a cada dia, um número cada vez maior de pessoas que, embora tenham nas mãos toda a informação, não possuem conhecimento.
Nesse ponto, faço uma pequena nota técnica, trazendo a diferença entre informação e conhecimento.
Informação é o que recebemos todos os dias, é a enxurrada de dados que caem em nossas mãos, já o conhecimento, por sua vez, é saber o que fazer com essa informação, é a aplicação prática e transformativa dessa informação, a mudança que ela proporciona, pois uma informação que não produziu conhecimento, ou seja, que não promoveu alguma mudança, não serviu para nada, sendo somente um aglomerado de dados.
Assustadoramente, a mediocridade ganha proporções gigantescas. Inevitavelmente, volto para fatos recentes do nosso cotidiano, onde pensamentos e comportamentos dignos da Idade Média ganham adeptos.
Dentro desse emaranhado medieval, uma situação que me irrita profundamente é a superficialidade, ou seja, a mediocridade com que se abordam temas extremamente complexos. As “soluções” criadas são de uma simplicidade que beira a infantilidade, assim como, os discursos. Conheço e convivi com crianças de 5 a 6 anos, que conseguiam estabelecer uma linha de raciocínio muito mais lógica.
Misturam-se fatos históricos com o intuito de justificar as falas, sem qualquer preocupação com a coerência dos acontecimentos e tudo foi jogado num único argumento binário: ser a favor isso ou contra aquilo.
Ironicamente, mais uma vez falando, destaco que o principal meio de disseminação dessa avalanche de sandices é exatamente a ferramenta que poderia tirar o véu da ignorância, prova de que, em qualquer situação, de nada adianta uma boa ferramenta nas mãos de quem não sabe usá-la, pois é tão somente um desperdício de recursos.
É fato que existe toda uma manipulação das informações, mas por outro lado, não acredito que as pessoas foram assim, digamos, tão inocentemente manipuladas. Elas foram manipuladas porque se deixaram ser manipuladas, arrisco a dizer, porque foram preguiçosas, intelectualmente falando.
Por mais estúpida que seja uma situação, basta você jogar numa rede social que em minutos isso ganha voz, quando bastava um clique para se checar a inverdade publicada. O mesmo clique que encaminha, também verifica, mas as pessoas preferem propagar, motivo pelo qual mantenho minha posição: isso não é ingenuidade, mas sim, má fé.
Uma coisa que também me chamou a atenção é o desprezo pelo conhecimento e crítica alheios. Grandes ativistas, reconhecidos mundialmente, ao proferirem qualquer coisa contra a linha de pensamento que impera no momento, de pronto são malhados de todas as formas e, como regra, muitos questionam: “Quem é o fulano?”
Prepotência? Arrogância? Ou tudo isso e mais um pouco? Só porque não concordo contigo, todo o meu valor se foi? Sim, essa é a lógica que impera.
Antes que já me malhem também, fiquem tranquilos, não estou falando somente do Brasil, embora, naturalmente vá falar mais daqui, pois é onde nasci e vivo até hoje. Mas, essa mediocridade não é privilégio nosso, não. É um movimento que cresce pelo mundo, feito erva daninha.
Tenho minhas teorias para tal fato. A mediocridade encontra solo fértil para progredir porque a mente, que é esse solo fértil, sempre foi medíocre, nunca saiu da Idade Média, só estava com um verniz bonitinho. Sabe aquela fala de Jesus sobre o túmulo? Caiado por fora, mas cheio de podridão por dentro? Aplica-se.
A psicologia também ajuda a entender esse momento. As sombras que não encaramos e não tratamos se projetam nos nossos semelhantes e quando identificamos neles a sombra que tanto negamos, atacamos.
O ataque, em si, nem é contra o outro, mas sim, contra nós mesmos, porque o incômodo é quando vemos projetado no outro aquilo que negamos em nós. Complica mais um pouco quando vemos que o outro convive bem com aquilo que tanto abominamos em nós. Isso explica muito dos ataques de ódio.
Ainda seguindo essa mesma linha de raciocínio, o culto à mediocridade que vivemos, acredito eu, também tem um certo resquício de autopreservação, como se a pessoa quisesse se agarrar aos preconceitos que carrega, não querendo se libertar deles e, em resumo, negando a si mesmo o direito de crescer e evoluir, ao contrário, prende-se a mais uma bola de ferro que a impede de sair do lugar.
Esses sentimentos e ações infelizes, certamente, estão ligados ao nosso instinto mais primitivo, que todos nós carregamos, mas com o qual temos que lutar todos os dias, pois nosso crescimento como ser humano depende disso.
Finalizando esse texto, me lembrei de uma frase de Stephen King: “Monster are real, and ghosts are real too. They live inside us, and sometimes, they win”, que traduzido seria algo como: “Monstros são reais e fantasmas também. Eles vivem dentro de nós, e algumas vezes, eles vencem”.
Que possamos conviver com esses monstros e fantasmas, mas que eles nunca nos vençam. Não aceite a mediocridade e, principalmente, não seja medíocre.
Qualquer coisa não serve, pois você não pode viver de esmolas e quem se contenta com os restos são os ratos! Queira sempre o melhor, faça sempre o melhor e a vida também te ofertará o que ela tem de melhor.