Dia da Consciência Negra

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Nesse ano, talvez mais do que em qualquer outro, falar da Consciência Negra tornou-se uma obrigação moral.

Já que o assunto, por si só, desperta sentimentos dos mais diversos, vou apimentar mais ainda a discussão e começar minha reflexão com uma frase de Paulo Freire: “Os negros no Brasil nascem proibidos de ser inteligentes”.

Se você já está com os dedos coçando para começar a me dizer que isso é mimimi, é vitimismo ou é privilégio, espere mais um pouco e vamos analisar alguns números.

Relatório recente, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, analisando dados de 2016, que são os últimos dados oficiais, dão conta de que a taxa de homicídios de negros equivale a 2,5 vezes a de não negros.

Essa taxa de homicídio, entre negros, cresceu 23,1%, ao passo que a taxa entre os não negros diminuiu 6,8%.

Outro dado estatístico interessante: de acordo com o IBGE, em 2015, apenas 12,8% dos negros entre 18 e 24 anos chegaram ao nível superior. Houve um aumento, no entanto, ao compararmos com a mesma faixa etária entre os não negros, esse percentual representa menos da metade.

Ainda segundo o IBGE, os negros e pardos representam 54% da população brasileira, portanto, são a maioria. O que chama a atenção é que, entre a parcela de 1% mais rica do país, cuja renda média, em 2014, ano desse estudo publicado, era de R$ 11,6 mil / habitante, e apenas 17,4% eram de negros.

 Prometo que esse é o último dado estatístico que trago para esse texto. De acordo com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, a taxa de moradia de brancos e negros, por regiões da cidade de São Paulo é a seguinte: bairro de Parelheiros, zona Sul da Capital, o percentual de negros é de 57,1%, enquanto em zonas nobres, como o distrito de Pinheiros é de apenas 7,3%. Outro exemplo? Eu tenho o M´Boi Mirim, também na zona Sul, com 56% de negros, já o distrito de Vila Mariana tem apenas 7,9%.

Acho que já deu para entender meu ponto de vista. Não, meu amigo, não é mimimi, não é vitimização e nem tão pouco privilégio. Num país onde mais da metade da população é composta por negros e pardos, você acha que esses índices são aceitáveis?

Marginalizamos a população negra até hoje e isso me envergonha, pois não consigo entender no que a cor de uma pele pode mudar o caráter de uma pessoa. O preconceito está tão arraigado em nossas raízes, que sequer conseguimos admitir que ele existe e logo buscamos subterfúgios para justificar nosso preconceito velado.

Naturalmente existem exceções a essas estatísticas, mas é esse exatamente o ponto, eles são tratados como exceções, dando a impressão de que estão fora do lugar que deveriam estar! Não são exceções coisa nenhuma, exceção é o que fazemos todos os dias, com discriminações raciais asquerosas.

A cor da pele nunca deverá ser critério para definir onde uma pessoa tem que estar, nem tão pouco o que ela pode ou não pode fazer. Me lembro que, quando adolescente, morei numa cidade onde havia um clube em que os negros eram proibidos de entrar! Se isso não te causa nem um pouco de constrangimento, repense suas atitudes.

Tem também o discurso da meritocracia, com o qual nem discordo totalmente, no entanto, precisamos também lembrar que para que os méritos sejam justos, as oportunidades também devem ser, afinal, quem está no mercado de trabalho sabe muito bem que as chances são maiores para quem tem mais formação.

Como vimos nos dados acima, as oportunidades na educação regular não são iguais, então, não há mérito justo!

A solução para esse problema, assim como, para qualquer problema social, não é simples. Sonho com o dia em que as cotas não serão mais necessárias, pois isso significa que não haverá mais diferença por raça, no entanto, hoje essa realidade é mera ilusão e discurso carregado de preconceito, pois elas são sim necessárias!

Infelizmente, cenas de racismo são frequentes e também são desumanas e mostram aquilo que há de pior no ser humano. Menosprezar seu semelhante, julgar-se superior apenas por uma cor é de dar pena, ou nojo, não sei ao certo.

É fácil criticar quando você nunca sentiu na pele, literalmente falando, o que é ser discriminado pela sua cor e não estou falando das brincadeiras de criança, não, estou falando de ser constrangido, de ser menosprezado, de ser relegado a uma raça inferior.

Enfim, o assunto renderia centenas de páginas, mas não sei se resolveria alguma coisa, afinal, o que são palavras se estas não alcançam os corações?

Negro, palavra forte e que carrega consigo a força que os irmãos dessa cor possuem. Eles tiveram que aprender a ser muito mais fortes, do contrário, não sobreviveriam. Essa força, ao mesmo tempo que remete a perversidade a que foram subjugados, também faz impor todo o poder das forças dos seus ancestrais, que foram levados a troncos, foram chicoteados, açoitados, tiveram sua carne e sua dignidade rasgados pelo sentimento mais mesquinho que o ser humano pode ter: a superioridade.

Superioridade é o que vemos nesses irmãos, que apesar de tudo o que sofreram, seguem resistindo bravamente e nos mostrando, ou melhor, esfregando em nossa cara, que a humildade é o que faz realmente uma pessoa superior!

 

Referências Bibliográficas

Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade. Levantamento mostra distribuição da população negra em São Paulo. Disponível em: https://www.ceert.org.br/noticias/dados-estatisticas/9503/levantamento-mostra-distribuicao-da-populacao-negra-em-sao-paulo

Negros representam 54% da população do país, mas são só 17% dos mais ricos… – Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/12/04/negros-representam-54-da-populacao-do-pais-mas-sao-so-17-dos-mais-ricos.htm?cmpid=copiaecola

Negros representam 54% da população do país, mas são só 17% dos mais ricos… – Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/12/04/negros-representam-54-da-populacao-do-pais-mas-sao-so-17-dos-mais-ricos.htm?cmpid=copiaecola

Altas da Violência 2018 – Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Acesso em: https://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/06/FBSP_atlas_violencia_2108_Infografico.pdf

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