Não tenho dúvida alguma que, depois desse meu texto, terei conquistado mais alguns inimigos, mas talvez essa seja uma das minhas vocações naturais…
Não sou daqueles que gostam muito dos modismos das redes sociais, mas é preciso ter senso crítico entre o que é uma modinha e entre o que é um assunto sério. Tenho visto muitas piadas sobre o assunto, ironias e, embora eu seja adepto das ironias, também é preciso saber quando elas cabem ou não.
Suicídio nunca é um assunto leviano ou com o qual se deva brincar e está me assustando a forma leviana como ele vem sendo tratado, talvez, penso eu, por ter surgido como uma “brincadeira” nas redes sociais, mas essa brincadeira é mortal, portanto, sem graça alguma.
Depressão não é frescura, não é falta de trabalho, não é falta de religião ou o que mais a sua mente julgadora possa imaginar. Depressão é doença, séria, e que deve ser tratada como tal. Nesse ponto, falo com conhecimento de causa, pois já tive minhas fases depressivas e sei o que passei. Não foi falta de trabalho, pois faço parte da turma que trabalha desde os doze anos de idade, não foi falta de religião, pois sempre pertenci a grupos religiosos e hoje, mesmo não frequentando mais templos, mantenho minha religiosidade, mas sim, foi um problema real e as críticas em nada ajudavam.
É impressionante a mentalidade de muitos, que julgam tudo aquilo que não é visível com uma facilidade absurda. Se a pessoa tem uma deficiência física, ou seja, é visível, todos se compadecem, mas se a deficiência não é visível, é frescura, é falta de trabalho, é falta de fé e por aí vai.
Relatando mais uma experiência pessoal, sofro dores terríveis por todo o corpo, dores que me acompanham, diariamente, há mais de vinte anos e que, muitas vezes, me tiram o ânimo para qualquer coisa, mas quem me olha não faz a mínima ideia do que sinto. Isso gera desconfiança, inclusive da própria família, afinal, sou saudável, forte, então, como posso ter dores?
Toda pessoa que tem qualquer tipo de enfermidade psíquica passa por isso, pois se a enfermidade não pode ser vista, é frescura, é melindre, é falta de vontade!
Uma das coisas que devemos nos lembrar, é que a maioria dos jovens de hoje vive um mundo com muito mais cobranças do que o mundo em que vivíamos quando éramos jovens, um mundo onde os pais estão cada vez mais distantes e recompensam essa distância com presentinhos, mas os presentinhos não satisfazem as necessidades emocionais, ao contrário, via de regra, somente acalmam a culpa dos próprios pais.
Não estou elaborando uma tese onde toda a culpa seja dos pais, mas falta família nos dias de hoje e, antes que venham mais bestialidades, não estou falando da “tradicional família brasileira”, estou falando de família amor, companheirismo, cumplicidade, amizade, mas também limites, segurança e estabilidade. Nesse ponto, tanto faz que esses sentimentos venham de um homem e uma mulher, de dois homens ou de duas mulheres, a diferença é quando essa segurança e estabilidade não existem!
Jovens de famílias estruturadas podem ser acometidos por depressões e pensamentos suicidas, aliás, ninguém está isento de, em algum momento da vida, ter esses sentimentos e pensamentos, então, deixe sua arrogância de lado e pense mais no outro, não tome as ações de quem você não conhece pelas suas convicções, pois isso é de um egoísmo ímpar.
Se você tem filhos, pense que nesse exato momento seu filho pode estar pensando em suicídio, que seu filho pode ter traços depressivos e que você, com toda sua falta de conhecimento, anda julgando como frescura e melindre, ou pior ainda, sequer ter percebido.
A bola da vez é a baleia azul, há pouco tempo era o Pokemon e, sem dúvida alguma, daqui a alguns meses, surgirão outros, mas o foco central continua sendo o mesmo, a carência e o desequilíbrio humano. Quando não encontramos a estabilidade nas pessoas que estão ao nosso redor, resta o virtual, resta a fuga, que é só mais uma tentativa de gritar ao mundo que algo não está bem. Essa fuga se manifesta em inúmeras formas e antes de sair julgando, veja quais são as suas, pois certamente ela só tem outro nome, mas igualmente você também foge de algumas coisas, talvez só não tenha a coragem de admitir.
O suicídio sempre é triste, pois é o momento extremo de alguém que não encontrou apoio, que não sentiu confiança suficiente nos que o cercam, no isolamento e no abandono que ele mergulhou, portanto, o suicídio nunca é um problema somente daquele que o cometeu, mas de toda uma sociedade que deixou de ser solidária, que acha muito mais fácil apontar dedos e tecer críticas que dilaceram ao invés de estender a mão e ofertar apoio.
Pouco me importa se você concorda ou não e se gostou ou não, pense que a sua crítica e sua indiferença podem estar presentes na bala que vai atravessar, a qualquer momento, a cabeça de alguém e que suas digitais também podem estar nas cordas que, nesse momento, estão sendo colocadas ao redor de algum pescoço. É forte sim, mas é a verdade, nua e crua e uma dose de realidade , de vez em quando, também serve para destruir alguns castelinhos de areia.