De um lado a pureza e a inocência, do outro, a indecência e a decadência humana. De um lado um garoto de 6 anos, feliz, com sua família, no dia do seu aniversário, do outro, seres que não sei se consigo chamar de humanos.
De um lado um pai, já acostumado com a rotina de roubos, desesperado, tentando proteger os seus, do outro, bandidos igualmente acostumados, mas com a rotina do crime, do pavor, da covardia.
Como normalmente acontece, venceu o mal, venceu a covardia. A decadência gritou: “onde está o cofre? ”, já a inocência, pura e também seguindo o exemplo do pai, retribuindo o gesto de proteção, ofertou o seu cofrinho, com toda a sua fortuna que ali estava depositada.
A inocência ofertou, a decadência levou. Não o cofrinho, pois a inocência não tinha valor, mas levaram aquilo que de mais valor a inocência tinha: seu pai, a quem ele, com toda sua pureza, tentava defender.
Trágico e simbólico, a decadência matou a inocência com um tiro no coração e, do órgão que representa o amor, emanou a dor.
O que era para ser a celebração da vida virou a contemplação da morte, que alguns chamariam de falta de sorte.
O “menino” talvez ainda nem entenda o que aconteceu, mas sentirá na sua alma, pelo resto da sua vida, a dor de uma sofrida partida. Um cofre pode guardar segredos, tesouros, ouros e tudo o que é de efêmero valor, mas não guarda o amor.
A mídia não pode revelar o nome do “menino”, pois a Lei protege a sua identidade, para lhe dar segurança e privacidade, mas que tremenda contrariedade se comparada a tamanha adversidade.
Hoje, em minhas orações, rezarei por um “menino”, que sequer sei seu nome, mas que já viveu a pior das experiências, coisa que nenhum “menino” ou “menina” deveria jamais passar, um menino que a Lei não protegeu e para o qual o Estado, indigno e insensível, certamente irá ignorar, exceto pelo pequeno peso que ele irá representar no próximo relatório sobre a violência.
Mesmo diante de toda dor e de toda maldade, “eu fico com a pureza das respostas das crianças”… e torço para que essa pureza, um dia, ainda possa tocar os corações mais decadentes.