Ao que me parece, esse é o lema do brasileiro, em qualquer situação e em qualquer lugar. Eu sou um daqueles que questiona tudo mesmo, não engulo regras goela abaixo, mas precisamos ter bom senso e saber quando é hora de questionar, de mudar e quando é hora de fazer o que foi determinado.
Esse limite parece não mais existir nos tempos atuais, certas situações já se tornaram rotina e, nem por isso, parece que há um esforço por modifica-la e, num exemplo, cito o ENEM, que foi realizado nesse último final de semana. Todos os anos é a mesma coisa: pessoas correndo antes que os portões se fechem, outras se descabelando porque perderam a hora mesmo, outras sendo banidas do local de prova por uso de celulares, pessoas presas e, nesse ano, fatos inéditos, como pessoas nascendo e pessoas morrendo. Os dois últimos são eventos que fogem totalmente ao controle humano, são fatos que não nos compete qualquer comentário, pois são forças naturais agindo e, nesse ponto, cada um tem suas convicções, suas explicações, mas o fato é: são forças e ações das quais não temos qualquer poder de controle, portanto, essas sim merecem um tratamento especial e são, em suma, exceções, no sentido literal da palavra, no entanto, as demais situações, são corriqueiras, são bestiais, estando no sentido inverso, sem qualquer explicação ou justificativa!
O transporte coletivo atrasou, o trânsito, a chuva, a seca, enfim, tudo é motivo para as tentativas de justificativas, que, sabiamente, não são aceitas. Todos os dias quem convive em grandes centros já sabe que vai enfrentar trânsito, imprevistos sempre podem ocorrer, por isso, já se chamam imprevistos e uma regra mínima de prevenção é trabalhar com um tempo maior que o necessário, isso é, planejamento, coisa que o brasileiro não está muito acostumado a fazer, pois sempre acha que o famoso “jeitinho brasileiro” pode resolver tudo.
O que vejo, na grande maioria, é que as pessoas estão sem referencial, não possuem mais limites, não sabem mais respeitar, não tem mais responsabilidades e sabe quem são os “culpados” por isso? Não, não é o Governo, meu amigo, é você! Você pai, você mãe, você professor, você patrão, que sempre aceita desculpas, prorroga prazos, que, em casa, não sabe falar não e impor limites, que é sempre conivente com atrasos e que se atrasa também, afinal, se todo mundo atrasa, porque você também não pode? A sociedade atual é extremamente permissiva e isso é uma das grandes causas dos desastres que temos por ai. Bom senso, creio seja isso que falte a maioria das pessoas, pois, é fato, que toda regra pode ter sua exceção, mas é exceção, não pode ser tomada a exceção como a regra em si.
Posso ser retrógrado em algumas coisas, os pedagogos e psicólogos que me desculpem, mas sou da política que nem tudo é negociável. Chegou a hora de dormir, seu filho vai dormir e pronto, não tem que ficar perguntando se ele quer, se ele acha melhor dormir agora ou depois. Já escutei isso por diversas vezes, pais perguntando aos filhos se eles não achavam melhor isso ou aquilo. Será que só eu acho que uma criança não tem senso crítico para decidir certas coisas e que isso é papel dos pais? Esse é um exemplo, mas são muitos outros que, ao longo da formação, vão fazendo os “monstrinhos sociais” com os quais convivemos hoje. A criança e o adolescente crescem sem ter noção nenhuma de respeito, pois se não respeitaram os pais em casa, como vão respeitar os outros na sociedade? Existe hora para conversa e existe hora para tomar decisões e pronto. Na minha modesta e nada profissional opinião, não serão esses os motivos dos maiores traumas do seu filho no futuro.
Na escola é a mesma coisa, desde muito cedo as criança e os adolescentes passam a perceber os professores e funcionários como seus meros serviçais, que estão ali para os servirem, afinal, como também é muito comum ouvir: “meu pai paga”, como se pagar fosse sinônimo de poder fazer o que quer! Mas de onde veio o exemplo? Quem permitiu? Os pais esperam que a escola faça pelos seus filhos aquilo que eles mesmos não fizeram, por outro lado, bastou uma reclamação da pobre criança para o professor ser confrontado, frente à direção, conselho, delegacia, afinal, meu filho foi injustiçado e, às vezes, essa grande injustiça foi uma nota baixa na prova, uma reprovação, mas a culpa é da escola que não soube entender os anseios do seu filho, que é um super mega dotado, muito superior a sua turma ou o professor que não tem capacidade para ensinar seu filho.
Essa criança, depois de um tempo, chega a faculdade e é a mesma coisa. Me surpreendi, diversas vezes, enquanto era coordenador de um curso superior, atendendo pais de alunos. Confesso que, na primeira vez, fiquei até sem saber o que fazer ou falar, pois era uma situação, ao meu ponto de vista, totalmente absurda, mas depois de um tempo, passou a fazer parte do meu dia a dia. A boa educação não deixa, mas a vontade era fazer uma pergunta bem simples: “Quando você vai deixar seu filho crescer?”. Atendi pais, namoradas, avós, irmãos e a criança, creio que devo assim chamar, ficava lá, ao lado, sentada, sem abrir a boca, deixando que outros resolvessem a coisa por ela. Não fosse pelo mero detalhe de que ele esta num curso superior e tem mais de dezoito anos, nada chamaria a atenção, mas tem esse mero detalhe.
Resumindo a coisa, ainda veremos por anos e anos a mesma patética cena de pessoas chorando nos portões das escolas, ainda veremos muitos sendo banidos por uso de celulares e “selfies”, afinal, a autoestima em baixa, penso eu, seja um dos motivos para tantos selfies, em todos os lugares, os mais inusitados, como velórios, banheiros e por ai vai. Qual a necessidade de tamanha exposição? Qual a necessidade de estar sempre em evidência?
Pais, aprendam que limites são importantes, se necessário, busquem ajuda com profissionais sérios, mas aprendam, de uma vez por todas, que seu amado filho precisa ouvir muitos “nãos” na vida e isso não vai lhe causar traumas irreversíveis. Professores, criem regras e as façam valer. Já diz o velho ditado, aquilo que foi combinado não sai caro. Estabeleçam regras, limites e prazos e façam com que estes funcionem, pois se você mesmo começar a quebrar as regras a e esticar prazos não espere que seus alunos o irão respeitar e, mais ainda, não reclame depois, em conversas de sala dos professores, que seus alunos são indisciplinados. A autoridade e o respeito são conquistas diárias (menos para um ex presidente, que deu uma entrevista pedindo respeito, penso que talvez ele faça algum decreto em breve, tornando o respeito a ele e ao partido, uma lei), mas aos meros mortais, respeito se conquista todo dia e é um trabalho longo e cansativo e ninguém disse que seria fácil.
Para terminar volto ao meu ponto de partida e deixo claro que não sou contra contestações, quando bem fundamentadas e não só porque eu não concordo com isso ou aquilo, afinal, se quando tenho a chance de mudar e de opinar, eu me omito, depois não tenho direito nenhum de abrir a boca. Aprenda a falar no momento certo, cumpra seu papel, pois sem autoridade moral, sua crítica será ridícula e nunca será levada a sério. Para cobrar honestidade dos políticos, seja honesto, pois se você tenta fraudar leis, burla regras, com qual autoridade vai exigir mudanças? Isso tem outro nome e se chama hipocrisia! Quer realmente fazer um protesto válido? Então, ao invés de sair para as ruas, fique em casa e estude, se informe, pense e se torne um cidadão consciente, que cumpre seus deveres, portanto, pode reivindicar seus direitos. Hoje vejo essas manifestações como algo totalmente sem sentido, desprovido de qualquer valor histórico, pois não há um ideal, não há um objetivo claro e a grande maioria só vai as ruas para conseguir registrar mais alguns “selfies”, nem sabe o que está fazendo e o que está querendo. Entendeu o motivo da necessidade urgente da educação e da formação de base? Você vai a rua por qual causa? Quem são os lideres e quais são os ideais por quais se estão lutando? Que mudanças você está promovendo? O que você defende? O fim da corrupção pode ser sua resposta e acho louvável, mas só para constar, você nunca estacionou seu carro numa vaga reservada e veio com aquela desculpa batida de que “é só um minutinho”, não né? Ah bom, então tudo bem, vai para a rua mesmo.