Eleições – A grande transferência de responsabilidades

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Para começo de conversa, embora o assunto seja política, não vou aqui discutir sobre um candidato ou outro, mas sim, sobre a transferência de responsabilidades que esse evento está proporcionando. Ainda nessa linha, também não vou falar das responsabilidades partidárias, mas sim, das suas, das minhas, das nossas responsabilidades, que estão cada vez mais relegadas a nada!

Não sou o único a dizer e também a observar, principalmente nas redes sociais, que as eleições se tornaram um grande confronto épico, com ataques brutais de todos os lados, mas algumas coisas chamam a atenção: bombardeio em fogo cruzado, pois o que vemos, como regra, é o PT atacando o PSDB e o PSDB atacando o PT, ambos recorrem ao passado, numa tentativa emotiva de conquistar ou se manter no poder, citam problemas históricos, promessas nunca cumpridas e, diante disso, ambos possuem um discurso vazio e sensacionalista.  Nesse ponto, tenho plena convicção de que comprei algumas inimizades e críticas, pois é claro, a turma do PT vai ter mil argumentos e a turma do PSDB, idem. O que observo é que ambos têm coisas boas e coisas muito ruins e ponto final.

Mas como falei no inicio desse texto, não vou discutir partidos ou candidatos, mas sim, discutir a postura dos eleitores, dos brasileiros, do qual faço parte. Observo muito as pessoas colocando num ou outro candidato, toda a responsabilidade de um país, pois um representa uma mudança, já o outro, a continuidade do que estamos vivendo. Uns pregam que a atual forma é a melhor, outros, que uma mudança é essencial. Concluo que todos e, ao mesmo tempo, ninguém te razão.

O que vejo é que a quase totalidade das pessoas joga nas mãos de um ou outro candidato a responsabilidade que lhe compete. Dilma não vai fazer nada sozinha, Aécio idem, pois, ao contrário do que alguns pensam, eles não têm superpoderes e raios mágicos, que num estalar de uma varinha mágica, iriam consertar o Brasil, que vem sendo explorado e sucateado desde o seu “descobrimento”. Ambos os partidos possuem problemas, ambos possuem qualidades, ambos possuem passados duvidosos e ambos podem não fazer nada daquilo que prometem. Diante disso, o que fazer? Minha modesta opinião é simples: ao invés de jogar para eles a responsabilidade, assuma você essa responsabilidade e faça a mudança que tanto deseja.

Novamente você pode me criticar, achando que você não pode mudar nada, mas pode, só falta você acreditar nisso. Os eleitores, ao contrário do que uns 99% acham, não são eleitores somente no dia das eleições, pois as nossas responsabilidades são muito maiores do que as de qualquer candidato. A fala não é inédita, mas é verdadeira: votou num candidato, acompanhe sua vida pública depois, cobre, fiscalize e não fique fazendo de conta que não é com você, que você não tem nada a ver com isso, pois tem sim! Uma pergunta simples aos eleitores do Tiririca, vocês sabem o que ele fez no último mandato? Além disso, o que ele pretende fazer nesse próximo? Utilizei o Tiririca como exemplo, mas serve a qualquer um, pois o grande problema é esse, damos um poder enorme nas mãos de uma pessoa e deixamos essa pessoa livre por quatro anos, sem cobrar, sem analisar, sem fiscalizar. Quando é que vamos entender que os políticos, como o nome já o diz, são servidores públicos, ou seja, trabalham para nós?! Você deixaria um funcionário seu fazer o que quer?

Hoje pela manhã, assistindo ao noticiário, me deparei com uma matéria estarrecedora: algumas famílias de ladrões, ou seja, pais que estavam estimulando e incentivando seus filhos a roubarem, formando uma quadrilha. A organização era simples,  a família toda entrava numa loja e, enquanto o pai e a mãe distraiam os vendedores, os filhos, orientados pelos seus pais, retiravam objetos da loja e levavam para o carro da família. Diante disso,  questiono, que diferença vai fazer a Dilma ou o Aécio? Nenhuma, absolutamente nenhuma, pois nossos problemas vão muito além de uma urna, nossos problemas são de caráter, são de formação de base, são de família, que inverteu totalmente seus valores e, quem quer que seja o eleito, não vai fazer diferença nenhuma, pois nada será fiscalizado, talvez por falta de autoridade moral para isso, pois uma família que fez o que fez, vai poder exigir o que dos outros?

Eu sei, você vai dizer que você não faz isso e eu acredito, mas em menores escalas, você nunca tirou proveito de uma situação ilícita? Nunca deu uma de espertinho no trânsito? Nunca andou acima da velocidade e, quando chega perto do radar, diminui? Nunca teve uma justificativa ridícula para estacionar em local proibido ou em vagas especiais? São pequenos gestos que fazem o caráter de uma pessoa e, me desculpem, mas ando muito pessimista em relação ao caráter dos brasileiros, que tem se mostrado mais fraco a cada dia!

O dia em que a grande massa despertar, independente do político que ocupar o cargo de presidente, o governo será sério, pois haverá cobrança, haverá fiscalização e, como já é dito há muito tempo, nada assusta mais um governo do que pessoas conscientes, mas nós não somos, motivo pelo qual a política é o que é. Agora, no calor da discussão, todo mundo é consciente, todo mundo é politizado, mas isso dura até o dia da eleição, porque depois só vamos voltar a falar disso daqui a quatro anos, novamente criticando as falhas da gestão, como se fôssemos uma entidade a parte e não um elo fundamental em todo o processo. Acredito que o dia em que a massa mudar, naturalmente a política vai mudar, pois essa mudança não estará mais nas mãos desse ou daquele candidato, ela estará fundamentada no caráter do povo, que naturalmente irá se refletir na política, pois essa podridão que hoje vemos na política, nada mais é do que a podridão social refletida no poder legislativo e executivo. Enquanto tivermos pessoas que acham normal tirar vantagem dos outros, nada vai mudar, enquanto você continuar estacionando numa vaga reservada, nada vai acontecer, enquanto você, discretamente, abrir o vidro do seu carro e jogar sujeira na rua, nada vai acontecer, enquanto você ultrapassar os limites de velocidade, colocando a vida de outras pessoas em risco, por um mero capricho seu, nada vai acontecer, enquanto você furar filas, nada vai acontecer, portanto, pare com esse discurso patético de mudança se você não muda nada na sua postura, não transfira para o candidato a responsabilidade que lhe cabe, não espere que ele, por decretos ou leis, vá mudar o caráter das pessoas.  Vote em quem quiser, pois isso é democracia, mas independente da escolha pelo seu candidato, escolha uma mudança de postura sua, escolha uma vida pautada pela ética, que nunca vai depender dos outros e sim, tão somente, dos seus valores e práticas pessoais. Caráter é aquilo que você faz enquanto ninguém vê, o resto é mero jogo de interesse e hipocrisia, pense nisso no dia 26 de outubro, vote em você e mude o Brasil.

Para refletir mais pouco, mais uma das fantásticas letras do grande Raul Seixas

 

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