Essa frase acabou se tornando motivo de brincadeira em minha casa, nos últimos dias. Recentemente, tivemos que nos mudar de casa, de cidade e aproveitamos para mudar algumas coisas, praticando o desapego.
Como a nova casa não tem o famoso “quartinho da tranqueira”, tivemos que rever algumas coisas, ou melhor, jogar algumas coisas. Coisas as quais estávamos apegados há anos, que eram “importantes”, mas que percebemos em pouco tempo que não serviam para nada. Começamos a encaixotar os pertences e em muitos momentos, ao olhar para algum objeto, falávamos a frase “vamos praticar o desapego”, e pronto, jogávamos o que já não nos servia para nada.
Para se ter uma ideia, alugamos uma caçamba de entulhos e para lá mandamos roupas, móveis, objetos dos mais variados, enfim, coisas que só serviam para preencher espaço e trazer uma sensação de que precisávamos daquilo, mas na prática, não tinham importância alguma.
Mesmo após jogar tanta coisa fora, ao chegar na nova casa, novamente praticamos o desapego com muitas coisas que, numa primeira análise, seriam importantes, mas na prática, novamente percebemos que não serviriam para nada também. Pronto, lá se foram mais alguns bons sacos de entulhos.
Essa situação me fez pensar um pouco no que fazemos com nossa vida, em quantas coisas nos apegamos apenas para preencher um espaço vazio, mas que de importância mesmo, nada representam.
Somos apegados a muitas coisas: objetos, pessoas, sentimentos, convicções, religiões, enfim, penso que nossa vida é composta de uma série de apegos e hoje me questiono quais deles realmente são importantes.
Naturalmente vivemos num mundo materialista e os bens materiais são importantes, necessitamos deles para viver e ter condições minimamente dignas de vida, mas precisamos nos apegar tanto a eles? Creio que não, dá para ter uma vida mais desapegada e menos sofrida, pois o apego normalmente está ligado a outros sentimentos, como angústia, medo. Penso que o apego a tantas coisas e objetos é uma forma de preenchermos nosso vazio existencial, mas como são coisas de dimensões diferentes, nunca um vai preencher o espaço do outro e eternamente estaremos na busca por algo que nos faça sentir melhor.
Quanto mais conseguimos olhar e sentir a nossa verdadeira essência, menos nos apegamos a coisas externas. Objetos passam a ser substituídos por sentimentos e, esses sim, preenchem os espaços da nossa alma.
Já pratiquei o desapego de muitas coisas materiais, mas acredito que está na hora de praticar o desapego de muitas outras coisas: sentimentos, pessoas e mais uma lista considerável de itens.
Posso parecer um pouco frio, mas por qual motivo nos apegamos a pessoas que não trazem nada de positivo? Não é a hora de também praticar o desapego? Isso é válido para tudo: colegas, “amigos” e, por que não, família?
Falsos moralismos à parte e também imposições religiosas que sempre nos empurram goela a baixo, para que manter certos “relacionamentos” familiares neuróticos e doentes? O sentido real da família é a ajuda mútua, o esteio, a força para momentos difíceis e a alegria nos bons momentos, agora, se esse convívio se limita somente ao interesse nos bons momentos, penso que também não há nada para se apegar, pois virou um mero jogo de interesses, sujo e repugnante, diga-se de passagem.
A vida nos ensina o desapego a todos os momentos, tirando-nos pessoas queridas, bens que julgávamos essenciais à nossa sobrevivência, situações de conforto, entre tantas outras coisas. A todo momento a vida está nos ensinando a não sermos apegados, pois tudo nesse mundo é passageiro, é volátil, mesmo aquilo que julgamos como extremamente sólido.
Diante de uma situação difícil, normalmente nos “quebramos”, e diante da fragilidade, nos tornamos mais humanos, mas o problema é que isso passa logo e, num curto intervalo de tempo, tudo volta ao velho padrão, pois não aprendemos a nos desapegar do que não tem valor em nossas vidas.
Fica uma pergunta: O que é importante em nossas vidas? Cada um que responda por si, mas após responder, analise se realmente é importante ou é apenas mais um comodismo e uma forma de fugir ao encontro do seu eu interior.
Chegará um momento em que teremos que nos desapegarmos da própria vida, pois nem nosso corpo nos pertence e a matéria cansa, se desgasta naturalmente e, como todo bem material, um dia chega ao fim.
O que virá depois da morte? Cada um tem sua crença, mas nem me preocupo muito mais com isso. Quero estar desapegado, pois quando nos libertamos de algo, damos espaço para o novo, seja na vida ou na morte.