Valorize a vida: preste atenção aos sinais!

Setembro amarelo. Setembro da atenção!

A cor amarela, escolhida para campanha de prevenção ao suicídio, não foi uma cor escolhida ao acaso. O amarelo é a cor da atenção, é a cor que nos chama a atenção para algo importante, algo que requeira nossa atenção imediata, sob o risco do quadro apresentado ficar muito pior.

No trânsito, quando alguém não respeita o sinal amarelo, acelera e avança, corre um risco, pois o sinal vermelho já pode ter aparecido e, nesse exato momento, uma colisão pode acontecer, muitas vezes sendo até fatal.

Na vida e na campanha de prevenção ao suicídio, chamada de Setembro Amarelo, ela tem a mesma função, que é a de nos chamar a atenção e nos fazer ficar alertas, pois ao ultrapassar o sinal, também corremos riscos.

A ideia é criar a conscientização para o bem mais precioso que todos nós temos: a vida!

No entanto, assim como no trânsito, muitos alertas são ignorados. Esses alertas ignorados podem ser de pessoas muito próximas a nós, senão, de nós mesmos.

A depressão é um assunto muito sério, ela vai corroendo aos poucos e, quando nos damos conta, já estamos num quadro grave. Depressão não é frescura, não é falta de Deus, nem de uns tapas, como alguns, estupidamente, gostam de falar. Depressão é doença séria, que mata, muito mais do que você imagina.

No tempo que você levou para ler esse trecho de texto, ao menos umas quatro pessoas se mataram ao redor do mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Esses dados, por mais assustadores que pareçam, ainda são subestimados, pois o suicídio é um tabu em quase todos os povos e, portanto, muitas vezes ele é mascarado.

Não vou falar sobre os possíveis fatores que levam ao suicídio, pois não sou da área da saúde, mas vou falar da minha própria experiência, pois essa eu conheço e sei do que estou falando.

Em minha adolescência eu já pensei em suicídio. Eram muitos problemas para os quais eu não tinha solução, era uma carga excessiva de responsabilidades que eu não fazia ideia de como resolver, aliás, eu não tinha que resolver, mas esse peso me sobrecarregou e, diante disso, mais de uma vez em pensei sim no suicídio.

Ao contrário do que muitos imaginam, quando você pensa no suicídio, não sei se todos, mas ao menos eu não pensava na morte, eu pensava que eu precisava dar um fim em tudo aquilo. A morte, em si, parece que ficava num segundo plano e esse é o grande perigo.

Por vezes, até parecia que seria uma solução temporária, que depois tudo se resolveria. Mas tudo o quê?

Felizmente, por sorte, por Deus, por esforço, sei lá, chamem do que quiser, não consumei o fato, mas poderia tê-lo feito.

Conheço muitas pessoas que chegaram a consumá-lo. Eram pessoas que eu não imaginava, assim como, tenho certeza, se eu tivesse me matado, muitos falariam a mesma coisa, que nunca imaginariam que eu seria capaz de fazer tal ato.

Sabe por que isso acontece? Sabe por que você não imagina que fulano ou beltrano seriam capazes disso? Porque, muito provavelmente, você não se importou o suficiente com a pessoa, não esteve atento aos sinais, que certamente essa pessoa deu, mas nós, envoltos em nosso egoísmo, só enxergamos nosso próprio umbigo.

Nossos problemas são maiores, nossas dores são terríveis, e por aí vai. Grande parte das pessoas não conversa, elas falam em voz alta, pois só o que se escuta é: EU, EU, EU e EU.

A pessoa deprimida não tem forças, como tem uma pessoa normal, para se impor e se fazer ouvir, ao contrário, ela vai definhando, se calando, se fechando e, num dado momento, vem “a grande surpresa”: “Nossa, fulano se matou! Mas quem diria?!”

Não é quem diria, ele mesmo certamente disse muitas e muitas vezes, mas você não ouviu! Não venha querer jogar mais uma culpa para cima de quem já se foi, pois isso é ser muito covarde!

Também não estou jogando a culpa para ninguém, estou apenas sendo um pouco enfático, para justamente chamar a atenção para um assunto sério: depressão mata!

Por vezes, a carga emocional é grande demais e, por mais que você faça, não será suficiente e, sim, a pessoa pode se matar mesmo assim. Portanto, não quero que você se sinta culpado, mas gostaria muito que você olhasse o assunto com outros olhos.

Quando alguém vier desabafar com você, simplesmente escute. Não queira “consolar” o outro com o discurso de que o SEU problema é maior. A pessoa não quer saber disso, o problema dela já é grande o suficiente e, caso você não consiga falar nada de positivo, abrace-a e pronto, já será de grande ajuda. Chore junto com ela, pois ao menos ela verá que alguém se importa com o seu sofrimento.

Jamais, em hipótese alguma, ache que sem a ajuda de um profissional da saúde você vai superar o problema sozinho. Busque psicólogos, psiquiatras, terapeutas, mas busque ajuda.

Não espere que o deprimido faça isso sozinho, pois pode ser que ele sequer tenha mais forças para isso. Pegue na mão dele e o acompanhe. Seja gente!

Guarde seu discurso religioso para a sua igreja. Não queira “curar” ninguém com base na sua fé. A fé é sua, você tem o direito de tê-la, ela pode até te fazer muito bem, mas lembre-se, ela é sua.

Tudo o que um suicida em potencial não precisa é mais alguém lhe apontando um dedo e dizendo que ele está sofrendo porque não fez as escolhas certas. Lembre-se, isso é desumano! Isso é covarde! Se esse é seu único argumento, por favor, se abstenha de emitir qualquer palavra.

Aprenda a enxergar os sinais, fique atento. Esse é objetivo da campanha Setembro Amarelo, esteja atento! Atenção a você mesmo, aos que te cercam, aos seus amigos, colegas de trabalho, enfim, qualquer pessoa com a qual você se relacione.

Lembre-se que a sua omissão pode custar uma vida. A culpa pode não ser sua, mas com um mínimo de esforço, você poderia ter evitado mais uma perda.

Em tempos de enxurradas de críticas por todos os lados, seja a diferença, seja a mão que apoia, o ombro que consola,  ou então, o amigo que chora junto, mas se importe, por tudo o que há de mais sagrado nessa vida!