Zona de Conforto – Sair ou não sair, eis a questão!

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Existem algumas falas populares que me incomodam. Uma das que faz tempo que venho implicando é a famosa “temos que sair da zona de conforto” e fiquei pensando, há um certo tempo, em como escrever sobre isso.

Vamos lá: por que temos que sair da zona de conforto? Qual o problema de permanecer por um tempo confortável? Quem foi que disse que é proibido se acomodar um pouco?

Minha interpretação dessa fala está diretamente ligada a insanidade do nosso dia-a-dia, é a forma aceitável e até científica que o sistema capitalista e consumista encontrou para passar a mensagem subliminar de: compre mais, queira mais, deseje mais, você precisa consumir desenfreadamente e não se satisfaça com nada.

Estar satisfeito significa, ainda que por um tempo, parar de consumir e parar de consumir é tudo o que nosso sistema não quer que você faça. O importante é que você consuma 24 horas por dia e não importa o que você consuma, importa que você consuma.

Quem tem que saber quando tem que sair de uma determinada situação é a própria pessoa, pois enquanto ela não estiver incomodada com isso, por qual cargas d´água você, que não tem nada a ver com isso, tem que dar palpite?

Uma das loucuras da vida moderna é que todo mundo tende a achar que as necessidades são iguais para todos, por exemplo, todos sonham em ter um carrão, uma mansão, festas, clubes, viagens e uma vida de ostentação, porém, na maioria das vezes, uma vida completamente vazia, que se tenta preencher com bens e posses.

Não, as pessoas não possuem as mesmas necessidades e você não tem o direito de pautar a vida do outro pela sua. Eu por exemplo, não dou a mínima para um carrão. Preciso de um veículo que me ajude a me locomover, mas estou bem com o meu popular.

Tão pouco preciso morar numa mansão, aliás, dadas as minhas condições de saúde, já começo a achar que uma kitnet  é um certo exagero, principalmente se eu tiver que limpar. Adoro meu apartamento, simples, num prédio antigo, mas que é o meu lar e é muito aconchegante, pois dentro dele existe amor, paz e harmonia.

Gosto da boa culinária, mas não preciso frequentar restaurantes com não sei quantas estrelas Michelan, eu e minha esposa gostamos de nos aventurar na cozinha e assim, gastamos pouco e comemos muito bem.

Não sei se estou certo aos olhos do mundo, mas também já estou naquela idade que quero que o mundo se exploda. Importa que eu estou bem com minhas escolhas e com meu estilo de vida e isso basta.

Quero ter conforto sim, quero poder por algum tempo não fazer nada, escrever, ler e falar besteira na internet, pois isso faz parte das coisas que me fazem bem. Não acho saudável essa fala de que todo tempo tem que ser empregado em atividades produtivas. Para quê?

Esses dias li uma coisa que me fez refletir um pouco mais e foi a gota d´água para esse texto. Um dito coach dizendo que “dorme 4 horas por noite e tem uma BMW e você aí, dormindo 8 horas”.

Não sei vocês, mas se eu pudesse, eu expulsava essa pessoa do mundo. É sério que alguém paga para ouvir uma merda dessa?

Meu amigo, seja feliz com suas 4 horas de sono e sua BMW, pois se te faz feliz, não tenho nada a ver com isso, mas daí a menosprezar quem dorme mais é caso de internação psiquiátrica!

Se você quiser sair da zona de conforto, ótimo, saia e realize seus sonhos. Se você quiser permanecer nela, ótimo também e ninguém tem nada a ver com sua vida. O tempo é seu, a vida é sua e as necessidades também, portanto, só você sabe do que precisa para viver.

Creio que a pergunta importante a ser feita é: você vive bem com seu estilo de vida e suas escolhas? Se sim, ligue o foda-se para o que os outros acham e dizem.

Precisamos quebrar esse paradigma de que é errado querer menos, de que é errado não sonhar com cada vez mais bens materiais, de que é errado achar que o que se tem é insuficiente.

Não estou dizendo que tenhamos que fazer votos de pobreza e que não tenhamos que ter objetivos e sonhos. Tenho muitos ainda e estou lutando para conquistá-los, mas eles jamais vão me impedir de ter meus momentos de ócio e de gozar de certo conforto. Creio que isso seja um dos benefícios da idade, afinal, depois dos quarenta as prioridades mudam bastante e a paz de espírito é uma das coisas que você vai  mais prezar na sua vida.

Ao invés de sempre querer mais, que normalmente só vai te dar um sentimento de incapacidade e frustração, dando margem ao consumo de ansiolíticos, agradeça o que você já tem. A gratidão vai suprir boa parte das suas necessidades e, talvez, você até conquiste mais coisas, mas isso chegará naturalmente e não te causará dores com frustrações. Aproveite cada momento da sua vida e, se ele for de conforto, melhor ainda.

A chave para qualquer coisa nessa vida é o equilíbrio. Ser conformado com tudo pode ser um transtorno sim, mas também ser inconformado demais, idem. Nossa vida começa a mudar quando começamos a ouvir mais a nossa própria consciência e menos as necessidades que o outro joga em nós.

Da próxima vez que alguém disser que você tem que sair da sua zona de conforto, antes de qualquer coisa, pense se é isso que você quer. Respondido isso, você mesmo decide se vai ou não sair.

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