A Educação como instrumento de transformação social

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Educação não transforma o mundo.

Educação muda pessoas.

Pessoas transformam o mundo – Paulo Freire

 

Vivemos momentos insanos, onde ataques surgem de todos os lados, em especial no que se refere à Educação, como um todo.

Tenho refletido muito nos últimos dias sobre toda essa situação, tentando achar alguma racionalidade em meio ao caos e, nessa tentativa, recorri ao livro Pedagogia do Oprimido, do Paulo Freire.

Deixo claro que esse meu texto não tem o objetivo de defender Paulo Freire, até porque ele não precisa disso. Meu objetivo é simplesmente tentar entender todo esse momento que atravessamos, olhando os fatos e não as pessoas.

Claro que meu posicionamento é político, pois não existe um único posicionamento que não o seja e quem prega o contrário, apenas espalha ignorância e demagogia, tendo em vista que o ser humano é político por natureza e não há nada de errado nisso, pelo contrário, o errado é não saber de qual lado você se posiciona e quais causas você defende.

Dito isso, abordarei a crescente polarização que nos encontramos, o velho jogo do nós contra eles e eles contra nós. Também deixo claro que não acredito que esse seja um dilema atual, pois desde que o mundo é mundo as coisas acontecem dessa forma.

Por outro lado, exatamente por isso existir desde os primórdios da humanidade é que acredito que já passou da hora de mudar e sair desse mundinho pequeno em que insistimos em nos colocar. Existe vida fora da bolha!

Ao analisar o momento atual tenho a nítida percepção da falta do sentimento de empatia, mesmo de humanidade para com o próximo. Nossa sociedade está se fechando numa fortaleza egoísta, onde o outro importa cada vez menos e, além de não importar, há todo um esforço para desumanizá-lo, pois ao ver o próximo não mais como um semelhante, mas como um farrapo humano, torna-se mais fácil condená-lo e culpá-lo pela sua própria desgraça, criticando-o pelas migalhas que lhe são jogadas, que passaram a ser tomadas como privilégios.

Essa desumanização também é uma tática antiga e, talvez, Hitler possa ser usado como um dos maiores exemplos de quem soube explorar essa condição ao extremo, já que para ele, judeus sequer eram humanos, portanto, todo tipo de atrocidade era permitido e justificado.

Embora o momento histórico seja outro, muitas características são semelhantes e a comparação torna-se inevitável. As ideias supremacistas voltam a encontrar terreno fértil e apoiadores apaixonados. Os desvalidos do mundo passaram a ser os novos judeus.

Para deixar o cenário um pouco pior, hoje temos meios de comunicação muito mais eficientes, onde mentiras tornam-se verdades absolutas em poucos cliques, fato que dá cada vez mais subsídios para embasar atrocidades e reforçar culpas e estereótipos de inferioridade.

A religião, ou ao menos os falsos profetas, continuam a infectar os corações humanos com seus discursos hipócritas e de ódio, atos estes condenados pelo próprio Jesus, que os expulsou dos Templos, mas que permanecem até hoje do mesmo jeito.

Um pequeno grupo, detentor de grandes fortunas e, portanto, dos meios de produção, continua manipulando os demais milhões e milhões de proletários do mundo contemporâneo, que passaram a receber diversas outras denominações sociais, já no intuito de mantê-los presos a sua insignificância social e, imbuídos do orgulho envaidecido, os faz acreditar serem aceitos e importantes, socialmente falando.

Mera estratégia psicológica e de manipulação de massa, pois esse pequeno grupo de afortunados nunca abrirá mão dos seus benefícios e regalias em detrimento de quem quer que seja. Criam-se discursos vazios,  mascarados de um verniz social, mas que com um mínimo de análise crítica, são desmontados, pois não se sustentam em suas supostas bases humanitárias, pelo contrário, apenas tendem a desumanizar cada vez mais a classe já tão sofrida e relegada.

Ao contrário do discurso pregado por muitos, de que boa parte da parcela da população gosta de viver de esmolas do Governo, já sendo essa uma parte da estratégia de desumanização, pois tenta-se incutir a ideia de uma classe social inferiorizada, que se satisfaz com qualquer coisa, fato que não reflete a realidade, uma vez que todo ser humano tem o direito universal a condições minimamente decentes de moradia, saúde, educação e lazer, portanto, esmolas não são suficientes!

Quem não se contenta e não aceita, sequer em jogar esmolas, é exatamente a classe privilegiada, que reluta em abrir mão do mínimo e, só aceita e se contenta com isso, quando consegue vislumbrar que ganhará muito mais ao abrir mão do mínimo. É o lucro acima de qualquer coisa.

A manipulação das massas é tão ardilosa que se utiliza de elementos psicológicos, apelando a autoestima das pessoas para lhes fazer crer que sua condição de inferioridade é ainda um privilégio, que ele tem que abrir mão se quiser uma sociedade mais justa, pois esses supostos privilégios de que desfrutam é que causam o sofrimento da grande massa desvalida da sociedade.

Hipocrisia pura! Pergunte aos grandes detentores dos meios de produção quais são os privilégios dos quais eles estão abrindo mão?

Precisamos ter em mente que quem tem uma pequena empresa, quem presta serviços, ainda que altamente qualificados, não é detentor dos meios de produção, mas sim, continua sendo classe proletariada, pois continua vendendo seus esforços para poder sobreviver. Quando você acredita que está no topo da pirâmide social, apenas por ter uma qualificação profissional superior a grande maioria, você apenas foi engolido pela lógica desumanizadora que impera no mercado e tornou-se um capataz saído da senzala, que agora açoita com força seus pares que lá ainda permanecem.

Deixo registrado que, em hipótese alguma sou contra os pequenos e médios empresários, aliás, hoje sou um profissional autônomo, mas tenho  plena consciência da minha insignificante posição social.

Para exemplificar isso, fiz uma rápida busca pelo valor de um almoço nos cinco restaurantes mais caros de São Paulo. Resumindo, conclui que um único almoço lá pode ser mais caro do que o eu ganho num mês todo. O dia em que você puder entrar num restaurante desses com toda sua família sem se preocupar com o valor da conta, você mudou para o outro lado.

O povo, a grande massa de desvalidos não quer esmolas, até porque, como já citei, todos deveriam ter direito ao mínimo necessário a uma vida digna.

Quando 1% da população global detém a mesma riqueza que os outros 99% do mundo, não vamos ser ingênuos ou burros ao ponto de acreditar que 99% do mundo está errado e 1% certo.

Eu, você e os outros 99% do mundo não nascemos pobres por uma fatalidade do destino, mas sim, porque estamos inseridos num contexto onde esse 1% consegue manipular e controlar os outros 99%. Você pode imaginar que o trabalho para conseguir essa manipulação não é fácil e nem simples.

Para conseguir esse intento, as narrativas são muitas, mas de uma forma geral todas giram em torno de nos fazer acreditar que tudo é culpa de um inimigo poderoso, de um poder sobrenatural, de uma ideologia que pode nos arrastar para as sombras da miséria, como se nossa realidade fosse um paraíso!

Não sei quanto a vocês, mas me consome saber que existem pessoas passando fome, enfermos que não possuem a assistência mínima para lhes amenizar o sofrimento, pessoas iguais a mim e a você em situação de rua, passando todos os tipos de privações, enquanto alguns de nós, desvalidos desse mundo, brigamos uns com os outros para defender o direito dessa minoria exploradora continuar nos tirando o pouco que temos!

Os sentimentos se confundem e vão da indignação a raiva, mas acabo me lembrando de outra fala do Paulo Freire, que diz que “quando a Educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor”.

Nem mesmo essa aparente loucura é um produto legítimo da classe oprimida, mas sim, uma ideia concebida no alto das pirâmides sociais e disseminada num discurso de ilusão e alienação coletiva.

Não sou contra o capital, sou contra a má distribuição do mesmo. Vivemos um mundo capitalista e o dinheiro pode sim nos proporcionar coisas muito boas, mas por que isso tem que se restringir a uma pequena parcela de privilegiados? Por que querem nos fazer crer que se não temos esse capital a culpa é nossa, por não termos força de vontade o suficiente?

O jogo sujo da manipulação de poder me causa náuseas. Minha indignação será eterna! Não dá para passar ileso por essa vida tendo um mínimo de consciência e de amor ao próximo.

Depois de tudo isso posto, volto ao título dessa minha reflexão, pois é nisso que acredito e, tão somente isso é o que creio que pode gerar mudanças profundas: a Educação.

Brilhantemente, Paulo Freire já disse que a Educação não transforma o mundo, mas sim, muda as pessoas e as pessoas transformam o mundo.

Acredito nisso, luto por um sistema educacional justo, onde desde os mais desvalidos até os mais privilegiados tenham as mesmas oportunidades, pois aí sim poderemos falar em meritocracia, no entanto, enquanto poucos tiverem acesso ao conhecimento, não há o que se falar em méritos, pois o ponto de partida não é o mesmo, portanto, a linha de chegada jamais será igualmente a mesma.

Quando todos partirem do mesmo lugar e com as mesmas condições, aí sim vencerá o melhor, no entanto, enquanto as diferenças reinarem, vencerão sempre os escolhidos pelo sistema, que privilegia poucos em detrimento de nações inteiras e nisso não há qualquer mérito!

A Educação transforma as realidades, pois tende a proporcionar um ambiente equilibrado. A Educação liberta as mentes e faz com que toda e qualquer verdade seja questionada. A Educação derruba mitos, pois acaba com os “escolhidos”, até porque,  se foi “escolhido”, alguém ficou para trás!

A Educação equaliza e desperta o sentimento não de superioridade, mas de que todos estamos no mesmo caminho da libertação, da busca e da realização. Naturalmente, os sonhos são diferentes de pessoa para pessoa, mas quando se fala em questões mínimas de sobrevivência, não se fala em sonhos, mas em direitos inalienáveis e dos quais não se abre mão.

O que precisamos buscar não são polarizações, mas sim, meios de concentrarmos esforços contra um sistema que nos corrompe sem que tenhamos consciência disso. Ter um lar, comida no prato e garantia de uma velhice tranquila não é privilégio! Privilégio é poder gastar num almoço o que a maioria das famílias não ganha em um mês!

A luta nunca deve ser para ter privilégios, mas sim, para garantir igualdade. Igualdade em todos os sentidos, pois não somos melhores, mas nem tão pouco piores a ninguém. Ninguém pode julgar uma realidade que não vivenciou.

O que temos que entender é que nenhum privilégio tem que nos ser dado, pois não é disso que precisamos e nem deve ser por isso que devemos lutar, mas sim, por igualdade.

Pode apostar, o discurso pode até ser bonito, disfarçado de boas intenções, mas sempre desconfie, pois como já falei nesse mesmo texto, se a classe dominante está dando algo é porque ela já descobriu uma forma de retirar, no mínimo, o triplo daquilo que está “dando”.

Essa luta por igualdade nunca será encabeçada por essa minoria que representa a fonte de toda desigualdade. Essa luta é nossa e de mais ninguém. Mais uma vez citando Paulo Freire, quem melhor do que o oprimido para conhecer a sua opressão?

Por que você acha que a Educação libertadora é tão combatida? Porque no dia que a senzala descobrir a força que tem, a casa grande desaba!

Nunca permita que alguém diga que você não precisa pensar ou questionar, muito pelo contrário, questione tudo! A Educação bancária, tão combatida por Freire é tão somente o que se deseja fixar, ou seja, o adestramento das mentes, que somente irão repetir conteúdos e discursos prontos, adestrando o cidadão para trabalhar cada vez mais a favor do capital dos privilegiados, pois não se busca a ascensão social, mas sim a acomodação e o controle dos anseios e desejos da grande massa. Quem pensa é perigoso e quem questiona é uma ameaça em potencial.

Paulo Freire e qualquer outro ser pensante não é combatido por ser “comunista”, mas por lançar luz na escuridão, por abrir as cortinas da ignorância e por fazer enxergar que dignidade não é privilégio, mas sim, um direito sagrado!

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