Dia Mundial da Educação

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O dia 28 de abril foi escolhido, durante o Fórum Mundial de Educação, realizado em Dakar, no ano de 2000, como o dia Mundial da Educação.

Nesse encontro, signatários de todos os países participantes, do qual o Brasil faz parte, assumiram o compromisso de levar uma educação básica de qualidade a todas as crianças e jovens.

Uma data como essa não pode ser ignorada, especialmente em tempos sombrios e incertos, como nosso momento atual.

Começo fazendo uma citação de Paulo Freire: 

A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa

Essas palavras de Paulo Freire são extremamente profundas e nos remetem a inúmeras possibilidades de interpretações, no entanto, em nenhuma dessas possibilidades cabe a limitação da liberdade de pensamento, do senso crítico e da livre expressão.

O amor, em si, é libertador e jamais aprisiona. Sendo a Educação um gesto de amor, é claro que ela jamais iria impor limites ao pensamento humano, tão pouco, dizer até onde o aluno pode ou não ir.

A Educação liberta e sempre buscará despertar o senso crítico, estimular a dúvida e impulsionar o aluno na busca de novos horizontes, despido de todo preconceito e livre para experimentar todas as dúvidas possíveis.

A dúvida é essencial ao crescimento humano e nunca deve ser temida, pelo contrário, se há algo a ser temido é a certeza, principalmente, a certeza dos estúpidos, que se pautam pela sua própria visão limitada e diminuta do mundo.

A Educação, ao despir o aluno do falso moralismo e lhe permitir questionar tudo para buscar novas soluções e novos olhares da sua própria realidade, conduz o aprendiz ao caminho da consciência.

Na consciência é que mora o perigo que os fascistas tanto temem! Continuo citando Paulo Freire, agora no livro A Pedagogia do Oprimido, onde ele afirma, textualmente que

se a tomada de consciência abre o caminho à expressão das insatisfações sociais, se deve a que estas são componentes reais de uma situação de opressão. O medo da liberdade, de que necessariamente não tem consciência o seu portador, o faz ver o que não existe. No fundo, o que teme a liberdade se refugia na segurança vital…

O movimento pútrido que hoje vemos, em torno da censura que se pretende instalar na Educação, seria facilmente explicável somente por essas falas de Paulo Freire, numa análise bem superficial, mas toda a sua obra é um risco aos objetivos fascistas e manipuladores das massas.

A liberdade assusta e nosso cenário político atual deixou isso bem claro. Grande parte da população não quer ser livre, pelo contrário, deseja ser guiada cegamente por um “Messias”, que seja o guardião de toda a moral e dos bons costumes.

A Educação, por sua vez, em essência, prega exatamente o oposto disso, motivo pelo qual, num sentido mais amplo e normalmente utilizado no sentido pejorativo, se diz que a Educação proposta por Freire é libertária e anárquica.

A Educação é sim, em essência, anárquica, pois à medida que o ser humano adquire consciência sobre seus atos e assume a responsabilidade pelas suas ações, para que servem os governantes? Pensar nisso, tendo por base os parâmetros atuais, é utópico, mas acredito que um dia a humanidade ainda chegará a esse patamar evolutivo, que a permitirá viver livre do controle do Estado, pois esse não se fará mais necessário.

Na contramão disso tudo, quando se pretende deter e centralizar o poder, o que se estimula é o contrário, é o empobrecimento intelectual da população, limitando as suas possibilidades de estudo e acesso a informações.

A informação é o maior bem do século XXI, pois ela reflete diretamente o poder. Quem detém informação, detém também o poder, tanto para o bem quanto para o mal. Com informação nas mãos, pode-se manipular as massas de forma que elas acreditem na verdade que está sendo difundida, que pode ser tudo, inclusive, não ser a verdade.

Isso é possível graças a falência do senso crítico, que se instaura com projetos autoritários e castradores da liberdade de expressão e de pensamento.

Diante disso, dá para perceber o perigo a que estamos expostos nesse momento? Reunimos as condições perfeitas para uma nova catástrofe na humanidade:

  • Governos extremistas chegando ao poder em praticamente todo o mundo;
  • Projetos centralizadores de Educação, onde sobre a dita “moral”, estão sendo impostas censuras deslavadas;
  • Pessoas desprovidas de senso crítico e que aceitam qualquer coisa que seja replicada em massa;
  • Retirada de garantias e liberdades individuais e coletivas, também sobre o manto da “moral e da família”;
  • Políticas públicas que vão acabar com o mínimo da dignidade do cidadão, obrigando-o a se curvar aos caprichos dos poderosos a troco de obter o mínimo para sobreviver.

Os recentes ataques do governo na área de Educação, em especial nas áreas de filosofia e sociologia, somente escancaram os objetivos nefastos desse grupo que hoje ocupou o poder.

A filosofia é simplesmente a ciência mais antiga da humanidade e foi através dela e seus questionamentos, que a humanidade chegou até o nível de conhecimento que hoje temos. Pode-se dizer que a filosofia é a mãe de todas as ciências, sendo assim, dá para perceber o quão estúpido é o argumento de que é uma área que não dá retorno?

O que presenciamos no atual governo é uma verdadeira caça às bruxas em relação aos professores, que são classificados como inimigos e doutrinadores. Dizem eles que o papel do professor é ensinar e não doutrinar, fato que concordo, mas qual é essa doutrinação a que tanto se referem?

Se os professores doutrinaram tanto, como esse governo foi eleito? Pontos fora da curva sempre vão existir, em todas as áreas, mas o que se está promovendo não é algo aceitável, mas sim, um estado policialesco, onde docentes passaram a ter suas aulas gravadas e expostas, pelo próprio presidente, nas suas redes sociais!

Se você não consegue enxergar o que está acontecendo, parabéns, você já se transformou naquilo que ele queria, ou seja, mais um zumbi!

Reafirmo, o medo não é do “viés ideológico da esquerda”, o medo é pura e simplesmente de seres humanos pensantes e questionadores! A dita “esquerda” foi o argumento que se encaixou no momento, mas poderia ser qualquer outra coisa, pois o que se combate é o senso crítico e o que se quer são pessoas apáticas!

Hoje, no dia Mundial da Educação, não achei uma única citação do presidente em relação a data, mas achei um compartilhamento dele sobre uma professora que estava “doutrinando alunos”. É natural, pois uma pessoa que pretende cercear a liberdade, jamais poderia comemorar a Educação!

Infelizmente a grande maioria não percebe, mas estamos flertando com o fascismo e marcando encontros, às cegas, com uma nova ditadura.

O que ainda me deixa um pouco mais tranquilo, deve-se a um fato que citei nesse próprio texto: a informação. Ao contrário do que ocorreu há algumas décadas, hoje será muito mais difícil impor a censura e calar a voz de milhares de pessoas, pois a descentralização das informações, proporcionada pela Internet é um ponto positivo nesse mar de más intenções.

Ao mesmo tempo em que ela contribuiu para a disseminação de milhares e milhares de fake News, ela também mantém a informação fluindo e pode nos tirar dessa bolha de mediocridade.

Lutarei eternamente pela Educação, pois é nisso que acredito! Somente com a Educação vejo a humanidade progredir. Ceifar o direito ao conhecimento e a livre liberdade de escolha, assim como, definir quem tem direito a ter acesso ao conhecimento é algo que nossa sociedade jamais deveria aceitar, em hipótese alguma, pois isso nos remete de volta a era das senzalas e dos senhores de engenho. Chega de submissão!

Todo conhecimento é válido, todo cidadão tem direito a escolher o que quer estudar e a nossa Constituição garante que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Qualquer governo que ouse qualquer gesto contrário a isso deve ser deposto do poder, pois está violando uma cláusula pétrea da nossa Constituição e, com garantias fundamentais, não há negociação possível.

Não permita, independente daquilo que você acredita, que alguém decida o que você pode pensar, falar ou estudar. Se você não se julga apto a fazer uso desse direito, tudo bem, declare-se incapaz e abra mão do seu direito, mas não obrigue um país todo a abrir mão junto com você.

Tenho certeza de que todos aqueles que amam a educação, que tem paixão por ensinar e que quer tornar as pessoas livres e independentes, como eu quero, jamais se calarão e se curvarão perante as ameaças de fascistas manipuladores.

Será preciso algo muito maior do que uma intimidação e a gravação de uma aula para nos silenciar, pois enquanto tivermos a capacidade de pensar,  NINGUÉM VAI NOS CALAR!

 

Referências

VEIGA, Edson. Paulo Freire: como o  legado do educador brasileiro é visto no exterior. Disponível para acesso em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46830942 

A imagem utilizada faz parte da mesma matéria e é o retrato de um mural de Paulo Freire, na Universidade Bío-Bío, no Chile.

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