Janeiro Branco

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Print

Gostou do artigo? Então compartilhe com seus contatos.

Nem rosa e nem azul, vamos falar é do janeiro branco!

Você já ouviu falar sobre isso? Sabe qual é o seu objetivo? Então vamos lá.

A campanha janeiro branco foi inspirada em outras campanhas, como o outubro rosa e o novembro azul e o seu foco é a saúde mental.

A saúde mental, de acordo com o site Janeiro Branco1, pode ser entendida não somente como a ausência de transtornos mentais, como a esquizofrenia, a ansiedade e a depressão, mas também como a capacidade do indivíduo de reagir, de forma equilibrada e adequada, às circunstâncias, condições e vicissitudes da vida.

Diante desse conceito e analisando nosso dia-a-dia, podemos ver que a campanha janeiro branco, mais do que nunca, precisa ser levada muito a sério.

Vou me ater a poucos exemplos, até porque, como é do conhecimento de todos, não sou um profissional da saúde e falo como leigo.

Um dado que vem me chamando a atenção nos últimos tempos é o altíssimo número de suicídios. Confesso, por anos, ouvia falar sobre o suicídio, mas até então, não conhecia ninguém próximo ao meu círculo de relacionamento que tivesse cometido esse ato.

De alguns anos para cá, isso vem se tornando cada vez mais comum e, infelizmente, hoje posso dizer que várias pessoas que conheci e que jamais eu imaginaria que poderiam se matar, assim o fizeram.

Somente entre a última semana do ano de 2018 e a primeira de 2019, na cidade onde moro, Americana, soube de dois casos.

Essa notícia sempre choca, pois fico imaginando o grau do desespero da pessoa que tira sua própria vida, fico imaginando as angústias que ela sentia, suas dores, talvez a falta de compreensão dos que os cercam e falo isso sem qualquer julgamento, apenas levantando hipóteses.

Fui pesquisar dados estatísticos e fui surpreendido, pois no ano de 2013, ano em que os últimos dados oficiais estavam disponíveis, o número de suicidas em Americana foi acima da média nacional.

Pude comprovar por números aquilo que já havia percebido na prática, ou seja, o número de suicidas aumentou no mundo todo.

Como rotina, estamos cada vez mais esgotados, pressionados de todos os sentidos e com os nervos à flor da pele. Fica fácil perceber isso em qualquer situação, pois as pessoas (me incluo) explodem por qualquer coisa, muitas vezes, com reações não compatíveis com o agente causador da reação. Naturalmente, foi um conjunto de coisas e o gatilho apenas fez disparar o vulcão que já estava prestes a soltar lavas.

As redes sociais deixam esse estado exacerbado muito claro, basta ler os comentários de qualquer notícia e constatar o quanto as pessoas estão amargas, ácidas, raivosas e por aí vai. A primeira reação sempre é o ataque.

Ao contrário do que se pode pensar, não vejo o suicídio como um ato de covardia, pelo contrário, tirar sua própria vida exige bastante coragem, pois lutamos contra todos os sistemas de defesa e autopreservação que nosso organismo possui.

Quando você sente um risco iminente, seu corpo se prepara para a defesa, seu batimento cardíaco dispara, doses extras de adrenalina são jogadas em nossa corrente sanguínea, que faz aumentar nossa pressão, nossa respiração e nos deixa em estado de alerta, entre outras reações, mas o intuito é avisar nosso corpo para o perigo, levando-nos a tomar ações rápidas no sentido de preservar a própria vida. Nada disso é pensado, é instintivo.

Imagine você agora, como está se sentindo a pessoa que é capaz de colocar uma corda no pescoço e se jogar, ou de dar um tiro em si mesma, ou se atirar de um prédio ou ponte. O nível de desequilíbrio é tão grande que ela consegue burlar todos os sistemas de defesa e se autodestruir.

Posso falar que, em partes, sei o que é isso. Sempre lutei contra a depressão, desde muito jovem e, na minha adolescência, fase que já é complicada para qualquer um, pensei sim no suicídio. Felizmente meu sistema de defesa foi maior, mas hoje eu poderia não estar aqui.

A depressão é uma doença silenciosa e, por vezes, sequer imaginamos que uma pessoa está em sofrimento. Quando se fala em depressão, normalmente as pessoas esperam alguém todo sujo, fedido, que não sai da cama, que não trabalha, etc.

Nem sempre esse é o quadro, muitas vezes o deprimido está sorrindo, está trabalhando, está comprando roupas novas, mas internamente está numa luta gigantesca, seus fantasmas o assombram sem dar trégua e não, isso não é frescura, não é falta de Deus e todo esse blá, blá, blá que as pessoas que nunca tiveram essa doença adoram falar.

Você não precisa entender (embora eu acredite que deveria), mas pelo menos deve respeitar e se abster de fazer comentários depreciativos, ou tentar minimizar o sofrimento do outro, mostrando que você também sofre, geralmente mais que o outro. Acredite, se alguém está deprimido, a última coisa que ele quer é que você compare o sofrimento dele com os seu.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2016, o Brasil registrou 11.433 suicídios, uma média de 31 casos por dia.

Os homens são os que mais cometem suicídio, chegando aos 79% do total. Já em relação a faixa etária, o suicídio é quarta causa de morte entre os que tem de 15 a 29 anos. O Rio Grande Sul lidera essa estatística, com uma taxa de 10,4 mortes por 100 mil habitantes.

Minha leitura sobre o fato de termos muito mais homens cometendo suicídio é totalmente leiga, mas é inevitável não pensar no machismo, pois o homem, desde muito pequeno tem que conviver com as famosas frases: “homem não chora”, “homem não demonstra fraqueza”, “engula esse choro e seja homem”, além de todas as outras pressões sociais que são impostas, como o fato de sempre ter que ser o provedor de recursos, aquele que trabalha para dar diamantes para as esposas, que devem ficar em casa cuidando do lar (sim, foi uma alfinetada), entre tantos outros fatores da cultura machista que vivemos.

Enfim, não me cabe discutir os fatores que levam ao suicídio, pois como falei, sou leigo no assunto, estou apenas falando como uma pessoa que tenta entender o sofrimento dos que passam por essa terrível situação, sem críticas ou julgamentos, apenas tentando entender o que levou a esse ato de desespero sem tamanho.

Procure olhar mais para as pessoas a sua volta, mas olhe sem críticas, sem julgamentos. Estenda as mãos e ofereça ajuda, um ombro amigo, seque uma lágrima de um amigo, pois esses pequenos gestos podem salvar uma vida.

Se você não consegue entender, tudo bem, cada um tem uma visão do mundo e das coisas, mas por favor, guarde seus comentários para você e para os que pensam como você, não direcione a sua metralhadora para quem já sofre o suficiente. Ao menos, tenha um pouco de humanidade nesse coração.

A ideia do janeiro branco é trazer essa conscientização e nos mostrar que podemos sim fazer algo para diminuir essas tristes estatísticas.

Se eu puder te ajudar em algo, conte comigo. Mesmo que eu não entenda, te respeitarei, mesmo que eu não saiba o que falar, podemos chorar juntos.

O mundo já tem dedos apontados de mais e mãos estendidas de menos, vamos mudar um pouco isso e todos nós ganharemos.

Fontes:

Cancian, Natália. Brasil registra 11 mil casos de suicídio por ano, diz Ministério da Saúde. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/09/brasil-registra-11-mil-casos-de-suicidio-por-ano-diz-ministerio-da-saude.shtml

Giannini, Deborah; Lisbôa, Gabriela. Estável, suicídio entre jovens ainda é quarta causa de morte no Brasil. Disponível em: https://noticias.r7.com/saude/estavel-suicidio-entre-jovens-ainda-e-quarta-causa-de-morte-no-brasil-21052018

Janeiro Branco. Campanha Janeiro Branco: por que “Janeiro” e por que a cor “branca”?. Disponível em: https://janeirobranco.com.br/campanha-janeiro-branco-por-que-janeiro-e-por-que-a-cor-branca/

O Mundo e as Cidades Através de Gráficos e Mapas. Suicídios: Veja números por cidades do Brasil. Disponível em: https://www.deepask.com/goes?page=americana/SP-Confira-o-numero-de-suicidios-no-seu-municipio

Revista Galileu. Número de suicídios aumentou no brasil. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2017/09/numero-de-suicidios-aumentou-12-no-brasil-mostra-ministerio-da-saude.html

Rolar para cima