Que tempos são esses?

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Reconheço meu pessimismo, de fato, não sou daqueles que primeiramente vê o copo meio cheio, mas nos últimos tempos, talvez mais uma vez sendo pessimista, penso que quem consegue sempre ver o copo meio cheio, deve sofrer de alguma patologia, porque não é possível manter o alto astral e uma visão linda do mundo, diante aos absurdos que vivenciamos todos os dias.

Dessa vez resolvi mudar um pouco o foco do meu texto e, ao invés de ficar falando dos problemas que nos atingem, vou focar nas causas, aos menos teorizando sobre algumas, pois é claro, esse é um assunto amplo e, portanto, não seria possível de abordá-lo na sua plenitude.

Certa vez, Martin Luther King, disse uma frase que entraria para a história. Essa frase já foi dita em muitos contextos, mesmo antes dele, mas não é o caso discutir a autoria e sim, seu significado. Disse ele que “o que me preocupa não é o grito dos maus,  mas o silêncio dos bons”. Não sei quanto a vocês, mas a mim essa frase causa dores de estômago. É isso, o que nós, que nos consideramos pessoas de bem, estamos fazendo frente aos absurdos que presenciamos todos os dias?

Por favor, vamos deixar as desculpas de lado, vamos refletir friamente sobre a situação. Não quero julgar ninguém, pelo contrário, tudo o que vou abordar, estou pensando em mim mesmo. Mas, volto a pergunta: o que temos feito para inibir todo o mal que nos atinge?

Infelizmente, em grande parte das vezes, estamos exatamente na mesma condição da frase de Martin, ou seja, estamos em silêncio, no mais sepulcral dos silêncios, estamos nos omitindo e pronto, como se isso resolvesse, afinal, não é comigo. Será que não, mesmo?

Não vou levantar a bandeira dos super-humanos, mas também, não vamos para o outro extremo. Não precisamos resolver os problemas do mundo, isso seria impossível, mas ficar calado também é outro grande problema. É o silêncio que incomoda, é a omissão que chega a ser perturbadora.

Na mesma proporção que vamos nos calando, vamos dando voz a uma geração de imbecis, a uma leva de corruptos que vão se apropriando do poder, pois vamos deixando. Eles roubam e o que fazemos? Muito pouco, senão nada. Há um certo murmurinho inicial, mas passa logo, então, vale à pena aguentar um pouco, pois eles sabem, vai ser por pouco tempo.

A população está cada vez mais massacrada, altas cargas tributárias e juros que consomem não somente o dinheiro, mas também a dignidade do trabalhar honesto. Qual a reação? A mesma, quase nenhuma! Vamos ouvindo dicas de economistas, que vão nos ensinando a abrir mão disso, a economizar naquilo e a sustentar o grande elefante branco! Abrir mão de supérfluos pode ser válido, quando é para você, não para manter a máquina da corrupção a todo vapor, pois é somente isso que fazemos.

Numa semana ouvimos que os preços dos combustíveis vão baixar, mas logo na outra, sem um único centavo a menos, ao contrário, ouvimos que os preços vão subir! Num dia ouvimos que as Concessionárias de Energia Elétrica cobraram, por um erro de cálculo, bilhões a mais dos consumidores, mas nenhuma menção a devolução desses bilhões é feita e, parcos dias após, temos aumento na bandeira tarifária. Nossa reação? A mesma de um cadáver em decomposição!

Voltando ao foco dessa discussão, nossa capacidade de reação tem sido irrisória. Dizemos que somos um povo pacífico, mas eu definiria de outra forma, somos um povo letárgico, catatônico, sem a menor capacidade de reação, ainda que seja para nos defender em nossas garantias Constitucionais mínimas.

Uma das coisas que me irrita profundamente, ao ver matérias sobre esses absurdos, é quando existem entrevistados que soltam o “Ah, mas fazer o quê, né? Temos que apertar mais um pouco, nos adaptarmos! ”. Minha pergunta é até quando vamos conseguir apertar mais? Penso que já chegamos muito perto da gangrena e não sei mais o que falta espremer!

Fico me questionando que tempos são esses, onde damos tanto espaço aos ladrões dos nossos sonhos, das nossas garantias mínimas de sobrevivência e nos calamos. Penso que isso ainda seja o reflexo de um período ditatorial, onde fomos condicionados a não reclamar e minha ponta de esperança é que isso um dia passe.

O jornalista Vladimir Herzog, certa vez também disse uma frase que, nos dias atuais, ainda faz todo o sentido. Disse ele que “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados. ”

Não sei o que fizeram com essa nossa capacidade, mas fizeram bem feito! Se indignar nas redes sociais não ajuda nada, ao menos, não somente nela, especialmente se for para somente criticar o capitalismo, mas usando o seu iPhone de última geração. Isso não é indignação, é hipocrisia, coisa bem distinta.  

Falamos tanto em defender a democracia, fato que acho importantíssimo, mas chego a duvidar que, sequer, entendemos o que significa democracia, pois certamente não é defender o direito de um grupo ou outro nos usurpar! Defender a Democracia, antes que qualquer discurso partidário, é defender o direito do povo e não de alguns vermes corruptos, escolhidos a dedo.

Outro termo muito em alta é o empoderamento. Tudo agora é uma questão de empoderamento, que novamente, não discordo, mas que tal se todos se empoderassem das garantias legais que nos são conferidas pela Constituição e, além disso, fizéssemos com que elas fossem cumpridas?! Nunca vai existir empoderamento sem as garantias mínimas de sobrevivência, sem o respeito aos direitos básicos de qualquer cidadão, isso é tão somente mais um delírio. Somente haverá verdadeiro empoderamento, quando o povo de bem, que são muitos, aprenderem a fazer valer seu direito democrático e a não mais permitirem que pequenos grupos de canalhas, usando títulos de representantes do povo, somente ajam em benefício próprio.

Estou cansado desses discursos vazios, desses modismos patéticos, de achar que “gritos de ordem” vão resolver alguma coisa. Estamos no exato caminho em que queriam que estivéssemos, trilhando exatamente os passos que nos foram definidos, através de décadas de silêncio e subjugação, estamos sendo idiotizados, cada dia mais, por mentes ardilosas e asquerosas,  que se apoderaram dos veículos de comunicação em massa, basta ver a quantidade de zumbis reproduzindo, imbecilmente, coisas que sequer sabem o que significam.

Que tempos são esses? Não sei dizer, mas sei que ele já durou muito mais do que deveria e meu medo fica ainda maior quando penso que poderemos ficar nessa letargia por longos e longos anos.

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