Minha Experiência com Artesanatos

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Que eu sou uma pessoa estressada, acho que não é novidade para ninguém. Venho lutando, há anos, para tentar manter o equilíbrio, afinal, eu sei os estragos que o abalo emocional causa.

Minha esposa, vários amigos, colegas de trabalho, vivem me falando que preciso de algum hobby, de preferência coisas manuais, que ajudam a minimizar o stress. Pois bem, na maior da boa vontade, fiz a estupidez de buscar no Google algumas sugestões.

Umas já descartei de cara, por razões que não citarei aqui, para não declarar guerra, mas já foram eliminadas no primeiro critério de seleção. Olha daqui, olha dali e eis que surgiu algo que me chamou a atenção. Sempre gostei muito de iluminação, acho fascinante o efeito que uma simples luz pode trazer num ambiente e tal.

Por fim achei um site que ensinava a fazer abajures personalizado, com garrafas e vi um que se destacou, pois era feito com uma garrafa de Whisky, outra grande paixão minha. Não possuía instruções, mas também nada muito sofisticado e me empolguei com a ideia, afinal, tinha uma garrafa de Double Black que estava terminando (diga-se de passagem, uma terrível fonte de stress) e achei válido fazer uma homenagem a essa garrafa que tantas alegrias me trouxe.

A garrafa ficou na prateleira da minha cozinha uns dois meses, até que hoje, véspera de feriadão, minha esposa, carinhosamente, me convidou para irmos a uma loja de materiais de construção, a maior da cidade, só para constar, para comprarmos os apetrechos que eu precisava, que eram os seguintes: uma cúpula (parte de cima do abajur), um bocal (onde fica a lâmpada), um pedaço de fio, uma tomada tipo macho e um interruptor, próprio para abajur. Eis que meu martírio começava, e eu, ingênuo, achando que finalmente faria algo que me traria relaxamento.

Na distinta loja, havia uma cúpula muito bonita, cheia de estilo, preta, que combinava perfeitamente com a garrafa. Não só peguei uma para mim, como incentivei minha esposa a pegar uma para fazer o dela também. Eu estava realmente empolgado ficaria lindo!

Na loja, os vendedores não foram avisados da crise, pois estavam atendendo uns cinquenta clientes cada um e eu, claramente, estava só atrapalhando a rotina deles. Resolvi perguntar sobre o bocal e já recebo a resposta de que não tinham. A tomada e o interruptor? Também não. O vendedor, querendo se livrar de mim, indicou outra loja onde eu acharia tudo isso, mas me lembrei de outra, perto da minha casa e para lá fomos.

Chegando à loja e já pergunto do bocal. Não temos, senhor. Mas tem uma loja, na avenida tal que tem. Essa avenida é no outro extremo, mas tudo bem. Comprei ali a tomada, os fios e o interruptor, pois fui avisado que nessa loja, onde compraria o bocal, não tinham esses itens.  Fiquei pensando o que faz uma loja que vende materiais de iluminação não trabalhar com fios e tomadas, mas enfim, problema resolvido.

Volto para a tal avenida. Só para constar, estava chovendo e todos os motoristas barbeiros da cidade estavam na rua, mas eu até que estava tranquilo, afinal, o projeto era relaxar. Entramos na lojinha, uma senhoria simpática nos atendeu e logo pegou o tal do bocal. Pronto, simples assim, era só ir para casa, juntar tudo e ser feliz.

Chegando em casa, começo a montagem do quebra cabeças, que nem foi tão difícil, creio que nuns vinte minutos eu já tinha passado o fio, colado o bocal, deixado os fios escondidos e agora só faltava colocar a cúpula! Agora vem a parte interessante, fique tranquilo.

Tentei encaixar e quase a cúpula caiu no meu pé! Passou direto pelo bocal, com folga, dançando zumba e com sobra de espaço. No primeiro momento, pensei que tinha esquecido alguma peça, mas olhando a bancada, não tinha nada sobrando. Sabe quando você desmonta um equipamento para limpar e, quando monta novamente, sai um relógio, um robô e ainda sobram algumas peças? Dessa vez não aconteceu, tinha usado tudo que estava lá.

Peguei meu antigo abajur, tirei a cúpula e pronto, encaixou direitinho, ou seja, a p@@@ da cúpula nova era fora do padrão! Voltamos na loja. Setor de devoluções e trocas. Preciso trocar essa peça, não serve, não encaixa no bocal.

Tudo bem, vou fazer o vale aqui e o senhor pega outro. Já logo tive aquele insight fdp que sempre tenho nessas horas. E se não tiver? E se o outro for igual? Quero o dinheiro de volta.

Ah, senhor, a loja não devolve o dinheiro, só um vale. Antes de ter uma crise nervosa, fomos testar os outros e adivinhe? Sim, todos iguais, ou seja, não serviriam nunca! Quero meu dinheiro!

Vou chamar o gerente.

Pois chame quem quiser, já visivelmente alterado e mandando os planos de relaxar para a casa do baralho!

Minutos depois chega o gerente, com aquela cara de Almeida, típico chefe responsável pelo arquivo morto dos documentos inutilizados, da filial desativada. Já visualizou? Essa mesmo. Era o Almeidão. Tenho certeza de que, naquelas reuniões tediosas e esdrúxulas de treinamento de equipe, o Almeidão é bem o tipo que bate no peito e solta o clichê: “Xá comigo, Almeidão tá aqui prá resolver tudo!” 

Preciso trocar, mas a loja não tem outro. Quero meu dinheiro de volta.

Ah, mas a loja não devolve dinheiro.

Mas tem que devolver! Agora, já chamando a atenção do quarteirão de baixo.

Tive uma aula sobre tamanho dos bocais, que aquela cúpula era para um tipo específico de abajur e tal.

Onde isso está escrito no produto? Cadê a informação que ele só serve no abajur x, y ou z??

Um pouco mais de briga, patadas e eu me controlando para não socar o Almeidão. Toca o telefone do Almeida, ele fala que está resolvendo um probleminha e que já iria. Eu, já soltando fogo pelo nariz, digo que ele poderia ir já, afinal, não tinha resolvido nada mesmo, então, que se sentisse à vontade para ir onde quisesse. Sim, eu pensei que ele poderia ir para lá mesmo onde você também acabou de pensar.

E não é que o Almeidão foi mesmo! Fico lá esperando o pobre coitado do rapaz do setor, que estava perdido entre mim e o Almeidão. Uns quinze minutos depois ele volta, com um vale troca, que tinha prazo de trinta dias. Pego o papel e saio atropelando quem entrasse na minha frente, aliás, nem sei se tinha alguém na loja.

Minha esposa, com toda a paciência que Deus lhe deu, ainda querendo que eu continuasse o projeto relaxamento, sugeriu que voltássemos na loja onde compramos o bocal, pois lá também tinha a cúpula, bem mais barata, diga-se de passagem, fato que já me irritou mais ainda.

A mesma velhinha simpática veio nos atender, minha esposa explicou o acontecido e ela solta a pérola. Ah, mas então a sua cúpula é importada, é outro padrão, tem outro bocal.

BARALHO! Ninguém me avisou que para fazer um abajur eu tinha que fazer uma faculdade de engenharia elétrica! Custava ter perguntado qual era o padrão antes? Não que eu soubesse que existiam vários padrões, mas pelo menos me chamaria a atenção. Eu só quero montar um abajur, será que vou ter que estudar o ANTONOV também? Entender de turbina de avião?

Ainda sobre padrões, adoro essa p@@@ de padrão internacional brasileiro, que só existe aqui. Igual a p@@@ da tomada três pinos, que segue padrões internacionais, mas que só existe aqui e que não é compatível nem com os próprios equipamentos aqui vendidos! Só isso, para mim, já justifica outro Impeachment!

Enfim, ela mostra um outro bocal, que daria certo. Compramos mais esse e voltamos para a fatídica loja, que me recusei a entrar, afinal, tinha acabado de prometer que não pisaria mais lá nunca e minha promessa tinha que valer, ao menos hoje. Minha esposa foi e volta com as mesmas cúpulas.

Volto para casa, ainda tremendo de raiva, mas tentando me controlar, afinal, o projeto era relaxar, não sei se você ainda está lembrado disso? Pego meu projeto de abajur, troco o bocal e??? Não deu de novo! Dessa vez eu tive a nítida certeza de que faltavam peças na p@@! do bocal. E lá vamos, outra vez,  para a loja da vozinha. Mais trânsito, mais motoristas barbeiros, mais stress e chegamos.

Ela olha e sentencia: é, está faltando. Nessa hora eu já estava rindo, provavelmente um pré surto psicótico, porque alegria é que não era. Agora, tudo devidamente testado, volto para casa e só estava pensando em montar tudo e a lâmpada queimar! Não, isso não aconteceu, afinal, estou aqui escrevendo, prova de que não surtei definitivamente.

Dessa vez tudo deu certo, montei, ele ficou até bonitinho (a foto é dele mesmo), mas vou ter que trocar a lâmpada, não porque ela tenha queimado, mas pelo fato da cúpula ser preta, parece que não tem nada nele, a lâmpada literalmente foi para um buraco negro.

Resumo da minha experiência com artesanato:

  • Para montar um abajur que, pronto, custaria uns R$ 50,00, eu devo ter gasto uns R$ 350,00, andei uns 600 km e me estressei umas duzentas vezes mais.
  • Sabe aquela história de que artesanato relaxa? Não rolou! Comigo não rolou, definitivamente.
  • Não estou aceitando encomendas, aliás, boa sorte se quiser montar.
  • Esquece a porra do abajur, prefiro só o Whisky mesmo!
  • Continuo procurando outras fontes de relaxamento! Aceito dicas! Tai chi, não adianta, esses movimentos muito lentos me irritam e, como diz uma amiga minha, o único movimento de animal que me daria bem é no coice de mula.

Mas tem uma coisa que eu gostaria de deixar registrado: CHUPA RODRIGO HILBERT! Que meu abajur saiu, saiu!

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