Resolvi começar a semana pedindo desculpas, em meu nome e em nome de todos os colegas de profissão e explico os motivos.
Nos últimos dias, com bastante frequência, tenho lido comentários acalorados pelas redes sociais, em relação às constantes greves dos professores, em diversos Estados do País, Estados esses que fingem que essa greve não existe. Alguns “Governantes” já fizeram disso um mantra, “não existe greve, não existe greve” e pronto, problema resolvido. Peço desculpas aos ferrenhos defensores, mas seria obrigado a incluir o Governo de São Paulo nesse meu texto, sei que ele é praticamente intocável, mas como bom baderneiro que sou, vou falar mesmo assim.
Os comentários normalmente nos acusam de baderneiros, agitadores, destruidores da ordem pública, da ocupação indevida de espaços públicos, prejudicando com isso aos nobres cidadãos que pagam seus impostos e têm seus direitos de ir e vir tolhidos, além de tantos outros argumentos. Confesso que faz tempo que venho lendo e tenho procurado me abster de comentários, mas meu sangue baderneiro ferve e, por mais que eu tente, não consigo me calar por muito tempo.
Como professor adora questionar, vou fazer algumas perguntas e, humildemente, peço para que responda com muita sinceridade para si mesmo: você se lembra do nome do seu professor ou professora na época da sua alfabetização? Depois de formado, qual foi a última vez que você teve contato com algum professor? Quantas vezes, além da festa de formatura, você se lembrou de agradecer a um deles por ter feito da sua vida algo melhor?
Eu sei, é difícil, a vida é corrida, você rala muito e quase nem tem tempo para sua família e amigos, quanto menos para se lembrar de alguém com quem você conviveu há tantos anos e que pouca importância teve em sua vida, é assim mesmo. Sabe o que mais me deixa indignado? Eu sei que isso também não te interessa, mas vou responder mesmo assim, pois professor também tem essa característica, gosta de dar palpite e falar sempre, mesmo que ninguém esteja ouvindo. O que mais me deixa perplexo é o descaso com que tratamos os profissionais que deveriam ser os mais respeitados e sim, falo nós não somente por uma convenção de escrever em terceira pessoa, mas porque realmente poucos dão essa importância e não me venha com o discurso de que é o Estado e blá, blá, blá. Sim, o Estado é omisso, não valoriza, mas a grande maioria das pessoas também não, então, diante disso, porque somente dizer que é o Estado o grande culpado? Talvez o Estado somente seja o reflexo daquilo que a sociedade expressa todos os dias!
Você médico, você advogado, você engenheiro ou qualquer outro profissional bem sucedido, que tem seu direito de ir e vir tolhido numa sexta-feira, dia em que você chegaria mais cedo em casa ou num barzinho, para junto dos seus amigos e entes queridos, desfrutar de bons momentos e que teve seus planos atrapalhados por esse bando de baderneiros, em nome deles, peço desculpas, pois eles me representam. São brigas políticas? É mero jogo de poder? É sério, esses são seus argumentos? Que bom que hoje você tem certa estabilidade e goza dos frutos da sua profissão, não tenho nada contra isso, muito pelo contrário, fico muito feliz ao ver que alunos que passaram pela minha sala de aula hoje são bem sucedidos, me emociono com isso e não estou sendo hipócrita, é uma grande satisfação perceber que meu esforço valeu à pena, que as horas e horas que passei preparando aulas, que os finais de semana que deixei de me divertir com meus amigos e família para corrigir aquele monte de trabalhos chatos não foram em vão, que as dores que muitas vezes superei para estar à frente de uma sala de aula não foram por nada. Peço desculpas pelos transtornos que causamos à sociedade com nossas reivindicações mesquinhas e descabidas, peço desculpas por não aguentar mais um sistema que empurra 150 alunos numa sala de aula e fala que tenho que dar um show para não perder nenhum, peço desculpas por ter sido agredido em sala de aula, agressões físicas e morais, que caem de todos os lados, alunos, pais de alunos, direção da escola, pois mais de uma vez já ouvi que todo professor é desonesto, não quer trabalhar, é “bracinho curto”, mesmo esse bracinho curto tendo que trabalhar em condições quase desumanas, em salas com 150 alunos, num calor perto dos 40° graus, isso à noite. Eu sei que chegar cedo na sua casa e ir para o conforto do seu ar condicionado é importante e você merece isso, por isso, mais uma vez, minhas sinceras desculpas, aliás, me desculpo por estar te incomodando com esse meu texto chato.
Para finalizar, só mais uma coisa, talvez se você e tantos outros tivessem um pouquinho mais de consideração pelos professores que tiveram e que talvez ainda hoje, anos depois, ainda estejam trabalhando duro, pois o salário do professor realmente é uma piada, mas eu sei, nós trabalhamos pelo amor e não pelo dinheiro, educador não pode ser apegado aos bens materiais, mas nós comemos, temos contas para pagar e posso te contar mais uma coisa, que talvez nunca ninguém tenha falado para você, nós também pagamos impostos. É verdade sim, também descontam do nosso salário as mesmas coisas que descontam do seu, portanto, o espaço público também é nosso por direito, do mesmo jeito que também é seu! Se não fôssemos tão esquecidos e relegados pela sociedade, talvez não tivéssemos que atrapalhar o seu santo sossego e descanso, mas infelizmente nós somente somos lembrados assim, quando atrapalhamos, quando incomodamos, do contrário, parece até que somos invisíveis.
Vou continuar abraçando e amando minha profissão, aquela que escolhi porque gosto e não porque sou um fracassado e não me dei bem em nenhuma outra coisa na vida, é verdade, eu gosto do que faço, sempre foi minha opção, antes de entrar para a faculdade eu já tinha isso como objetivo, portanto, não julgue a mim ou a tantos outros colegas que escolheram, por amor, essa profissão e acredite, nem todo professor é um fracassado, assim como nem todo advogado é desonesto e nem todo médico é mercenário. Continuarei na profissão porque não preciso dos aplausos da sociedade, preciso ter a consciência de que fiz meu trabalho bem feito, mas tenho que confessar também que um pouco de respeito faz bem a qualquer pessoa e, por mais inacreditável que possa parecer, professor também tem sentimentos e também gosta de respeito.
Se você entendeu as ironias do meu texto, agradeça a seus professores, eles fizeram o trabalho deles bem feito. Que ironia? Que é isso? Talvez bons professores tenham faltado em sua formação. Se você leu esse texto até aqui, que bom, pelo menos um dos seus professores, que foram muitos, fez o trabalho dele bem feito, mas que importância tem isso, não é mesmo? Finalizando, peço desculpas por ter tomado seu tempo com coisas tão fúteis e triviais, pode voltar para suas ocupações e tenha um ótimo dia.