Você sabe ouvir as pessoas? A pergunta, num primeiro momento, pode ser meio simplista e até estranha, mas vamos pensar um pouco sobre isso. Qual é a sua capacidade de ouvir o outro? Quando alguém vem te contar alguma coisa, como você se comporta?
Acredito que sou um bom ouvinte e falo isso pela quantidade de coisas que já ouvi ao longo da minha vida, fatos que muitos já me contaram e depois até que questionei, intimamente, porque a pessoa me contou aquilo. Quem me conhece sabe que não sou de falar muito, a menos que perguntem minha opinião, do contrário, procuro ouvir, observar, analisar e falar o mínimo possível, pois acredito que é pura perda de tempo falar com quem não quer ouvir, tentar argumentar com quem não quer entender e já passei dessa fase, a fase de empurrar, goela a baixo, minha opinião, o que penso, em que acredito, simplesmente ouço, deixo as pessoas falarem e essa é uma experiência interessante, pois hoje vejo que a frase do Renato Russo, que diz que “fala demais por não ter nada a dizer”, não poderia ser mais verdadeira. Observo pessoas que falam o tempo inteiro, monopolizam conversas, que se tornam monólogos, chatos, mas que possuem uma necessidade constante de expor ao mundo suas opiniões, mas que no fundo, não dizem nada, apenas externam o seu íntimo, ou seja, o completo vazio. Falam de futilidades, falam de outras pessoas, o que acho péssimo, se auto promovem e acabam por se expor demais.
Não estou dizendo que não gosto de conversar, do diálogo, pelo contrário, gosto muito, mas quando a conversa é produtiva, quando se discutem ideias e não pessoas, quando se constrói e não destrói.
Coisas que me irritam profundamente, por exemplo, é quando estou falando com alguma pessoa e ela, do nada, fala uma coisa totalmente diferente daquilo que estávamos conversando, ou seja, aquilo que eu estava dizendo, para ela, não tinha importância alguma e, suponho, nem deveria estar ouvindo. Outra situação é a de você falar com uma pessoa e ela simplesmente se virar e sair e você fica lá, no vácuo. Esses comportamentos, para mim, também tem um nome bem simples: falta de educação. Infelizmente convivo com pessoas assim, pessoas que não sabem ouvir, que não tem a humildade para doar alguns minutos do seu tempo ao outro, mas que querem ser o centro das atenções o tempo todo. Tenho certeza de que não sou o único, certamente você também deve conviver com pessoas desse tipo.
Saber ouvir é uma virtude que todos nós precisamos desenvolver e não falo em saber ouvir somente aquilo que nos interessa, somente ouvir o que queremos ouvir, mas ouvir o que o mundo tem a nos dizer, o que as pessoas podem nos transmitir e, via de regra, as pessoas mais simples são as que transmitem ótimos ensinamentos e grandes lições de vida.
Em minha rotina de trabalho acabo falando com muitas pessoas, mas vejo a dificuldade que muitos têm em ouvir. Muitos depois argumentam que não foram bem atendidos, fato que não é verdade, mas como não ouviram o que queriam ouvir, entendem que foram mal atendidos. Se você não está disposto a ouvir nada além daquilo que quer ouvir, por favor, não pergunte, pois se já tem a resposta e já fechou a questão, por qual motivo vai desperdiçar o tempo do outro? Contente-se com sua verdade e pronto. Se isso não for possível, ouça, ainda que não seja o que você quer, mas ouça, pois talvez o que o outro vai lhe dizer seja o mais viável a ser feito, ou pelo menos, é o que pode ser feito. Não concordar é uma coisa, não saber ouvir é outra totalmente diferente.
Chega a ser patética algumas cenas que presenciamos, como por exemplo, a disputa de quem está com mais problemas. Já viram isso? Alguém vem contar um problema e o outro logo tem que achar outra situação mais trágica, normalmente completando com a famosa frase “ah, mas você não sabe o que EU estou passando, o seu problema não é nada perto do meu”. Se o outro te procurou, ouça, demonstre um pouco de afeição, de carinho e ouça, esqueça um pouco seus problemas e tente ajudar o outro, pois certamente isso já tornará seu problema menor, ao contrário, ficar valorizando suas dificuldades, somente as tornaram maiores ainda e farão de você um chato.
Em muitas situações, sequer cabe uma resposta, uma argumentação, o que o outro espera é o simples gesto de ouvir, alguém com quem ele possa compartilhar suas angústias, aliviar um pouco seu sofrimento, mas isso é algo cada vez mais raro, pois a humanidade anda tão ensimesmada que só consegue ter olhos e ouvidos aos seus próprios problemas.
Às vezes, no meu dia-a-dia, observo que muitas pessoas que me procuram para conversar, na verdade, apenas querem conversar mesmo, não possuem sequer problemas que eu possa interferir ou ajudar, ele quer falar, reclamar, colocar para fora suas angústias, que muitas vezes nada tem a ver com o nosso convívio profissional, mas sim, com frustrações e problemas pessoais, que ele leva ao ambiente acadêmico. Em muitos desses casos, minha única intervenção é ouvir e isso já faz com que a pessoa fique melhor.
Quando falarmos, vamos procurar manter sempre a objetividade, a clareza e a sinceridade, o que não precisa nos tornar rudes, pois posso perfeitamente ser objetivo e sincero sem ser mal educado, posso dizer grandes verdades sem precisar ser arrogante e posso dizer “não” sem causar grandes traumas, mas tudo vai depender da forma como abordarei o assunto, da forma como olho, do tom de voz que utilizo, da minha própria linguagem corporal, pois também é horrível falar com quem não te olha, pois isso já demonstra claramente que o que o outro vai falar não é importante para você, ainda que você escute.
Gosto de pensar que essas atitudes são pequenos gestos que contribuem para um mundo melhor, comece a praticar o ato de ouvir e observe como as coisas começam a mudar. Ache tempo, converse, pois o ser humano precisa do contato, precisa do outro e, penso, as maiores dores que nos assombram na atualidade, estão diretamente ligadas a nossa solidão, solidão que não é a de estar sozinho , mas de estar sozinho junto a uma multidão que não te vê e não te ouve, o que é bem pior do que a solidão pelo fato de estar sozinho.