Uma frase bastante comum nos últimos dias é: “precisamos voltar à normalidade”. Fiquei pensando sobre isso e, desses pensamentos, surgiu mais um texto.
Qual seria essa normalidade para a qual temos que voltar? A resposta óbvia eu sei, mas não estou me referindo a todo mundo sair das suas casas e retornar aos seus afazeres e lazeres.
O que me incomoda é que essa aparente normalidade também normalizou um monte de coisas que, de normal, não tem nada.
Esse antigo normal aceitava:
- Que chefes de família ficassem desempregados por meses, por anos e isso não causava preocupação em ninguém.
- Que pessoas “morando” nas ruas, passando frio, fome e todo tipo de privação, fossem invisíveis aos olhos do mundo.
- Que mulheres apanhassem e morressem todos os dias, por puro sentimento de posse dos seus “companheiros”.
- Que negros, gays e qualquer outra minoria sofressem todo tipo de violência, sem grandes comoções.
- Que os bancos cobrassem juros extorsivos e tomassem tudo o que os menos favorecidos conseguiam juntar, por vezes, ao longo de uma vida inteira de grandes lutas e privações.
- Que pessoas morressem de fome, enquanto toneladas e toneladas de alimentos viram lixo todos os dias.
- Que a natureza fosse saqueada e destruída em prol de pequenos grupos terem lucros incalculáveis, mesmo que destruindo o futuro de muitas gerações.
Enfim, eu poderia passar horas escrevendo sobre todos os infortúnios, mas seria desnecessário.
Eu não quero voltar para essa normalidade, eu prefiro um novo normal, um normal onde a fome não seja aceita, onde o preconceito seja punido com todo o rigor possível, onde qualquer minoria seja respeitada, onde mulheres nunca mais apanhem dos seus abusadores e onde nenhuma pessoa seja explorada por um sistema capitalista desumano! Esse é o normal que eu almejo. Esse é o normal que eu sonho, mas eu sei, provavelmente ele será tão somente um sonho…
Por outro lado, já pensou se essa pandemia durasse até que aprendêssemos algo? Se ela só fosse embora quando o ser humano deixasse de ser tão mesquinho?
São só uns pensamentos estranhos que vagam pela minha cabeça…