Essa foi a declaração oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, sobre as quinze mortes de jovens, adolescentes e crianças, em cinco dias, todas em favelas do Estado.
Hoje pela manhã saí de casa para trabalhar chorando. O relato da Sofia, uma menina de 7 anos, irmã de uma das vítimas, Dyogo Costa Xavier Brito, me derrubou. Vou pedir licença para reproduzir a fala dela.
“Deus, que cada pessoa que esteja aqui sempre viva bem, que não perca ninguém assim desse jeito. Sempre quando alguém estiver assim bem triste, pega as suas mãozinhas e lava o coração dele. Deus, abençoe quem está aqui e que todos sejam do bem e não sejam do mal, para que não façam coisa errada”
Não é possível e justo que uma criança de 7 anos tenha que passar por isso. Não é possível que pais, mães, irmãos, avós, parentes e amigos, todos os dias, tenham que se despedir de pessoas queridas dessa forma!
O senhor governador alega que “não há política de enfrentamento”. De fato, não há política de enfrentamento e nem nenhuma outra, pois isso não é política, é guerra!
Hoje foi a vez de uma adolescente, de 17 anos, Margareth Teixeira, ser atingida, morta com cerca de 10 tiros. Margareth deixou uma criança de um ano e dez meses, que também foi atingido, mas sobreviveu.
Eu estou detalhando e fazendo questão de dar nomes, pois é importante enxergarmos que além de “dados estatísticos”, nós temos pessoas por trás desses números, seres humanos, filhos de alguém, mães e pais de alguém, não são meros números! Números são frios, bem contrários ao sangue quente que escorre feito um mar vermelho pelas ruas!
Mais sórdido ainda é a tentativa da própria polícia e do Estado em tentar transformar todas essas vítimas em bandidos! Isso é de uma canalhice que não tem tamanho e faltam palavras para descrever o quanto de raiva e nojo sinto nesse momento!
É importante ressaltar que esse ser abjeto, esse ser repugnante que hoje ocupa o cargo de governador, também já foi juiz! Imagine os julgamos que ele deve ter feito ao longo da sua brilhante carreira!
Estou cansado, estou desanimado, estou sem esperança de conseguir ver um futuro melhor para esse país, mas nem assim consigo me calar, pois o meu cansaço não é maior do que a dor de todas as famílias enlutadas e destruídas pela instituição que deveria protegê-las!
O jornalista Chico Pinheiro, com quem vi essa reportagem hoje pela manhã, disse a seguinte frase: “E a polícia diz às vezes que ele era traficante, como se o fato de alguém ser traficante justificasse uma ação de violência, de balear e de matar”.
Imediatamente a classe podre desse país despejou uma enxurrada de críticas sobre o jornalista, sempre com o mesmo argumento idiotizado de “defensor de bandidos”. Peço licença, mas preciso mandá-los para o QUINTO DOS INFERNOS, com esse discurso medíocre, típico de gente que se acha acima do bem e do mal. Eu tenho vergonha de pertencer a mesma espécie de vocês!
Imediatamente as 15 mortes de inocentes se tornaram nada perante a “defesa dos bandidos” feita pelo jornalista. Isso me desanima mais do que as mortes, porque vejo que o povo quer isso, o povo quer sangue, quer morte, quer justiça com as próprias mãos e, se morrerem inocentes, faz parte. Grande Chico, a você deixo minha solidariedade e minha admiração, tanto pelo profissional quanto pelo ser humano que você é!
Já não sei mais se adianta clamar pelo bom senso, porque vejo que esse se foi faz tempo, mas vou insistir mesmo assim: como é que tantas mortes passaram a ser tão normais e bestiais??
Esses mortos eram crianças e adolescentes! Uma das vítimas sonhava em ser PM. Veja a ironia da vida, pois ela foi taxada de criminosa, sem processo penal, sem julgamento, apenas por ser pobre e morar numa favela.
Podem me chamar do que quiser, não estou nem aí para a sua opinião sobre mim, aliás, por favor, se você apoia esses atos, me odeie com todas as suas forças, pois faço questão de ser detestado por você!
Acredito e apoio a punição para criminosos, mas dentro da Lei e preciso lembrar que não temos pena de morte no Brasil, menos ainda, sem um processo e um julgamento. Isso é coisa de poder paralelo, de milícia! Que moral tem o sujeito de criticar traficante que mata quando ele faz a mesma coisa? Esqueci, é que agora a Lei diz que ele pode matar!
Hoje nós temos uma política de morte, de extermínio em massa, principalmente da massa pobre, afinal, quem se importa com uma Margareth, com um Dyogo, com um Gabriel, com um Henrique e por aí vai.
Pois eu me importo, embora não os conheça, mas vidas humanas me importam. Me importo mais ainda porque sei que esses 15 mortos, em 5 dias, serão apenas estatísticas jogadas em alguma gaveta, relegadas ao esquecimento.
Essas mortes nunca serão apuradas e nenhuma punição haverá, aliás, haverá sim, punição para as famílias, amigos e parentes dessas vítimas e serão somente elas a sofrer sanções.
Tenho medo do que ainda vai acontecer, pois dados os estados de ânimos da população, o gosto pelo sangue e a sede por morte, não sei qual será o limite para essa insanidade, se é que haverá um limite.
Todos os dias, ao sair de casa, me sinto um soldado indo para a linha de frente num campo de batalha, sem a menor garantia de chegar vivo ao fim do dia. Muitos não chegam, mesmo.
O discurso do governo, tanto do Rio de Janeiro, quanto do Brasil, é o mesmo: MORTE.
A população está sendo dizimada e não está se dado conta, por se achar protegida sobre o manto de uma suposta classe média e privilegiada, de cidadão do bem, de trabalhar, pois eu só digo uma coisa: ACORDE, SEU TROUXA, pois você também é só mais um e será esmagado também sem nenhum dó ou piedade.
Alguns desses 15 mortos estavam indo para a Igreja, outros voltando do trabalho, outros indo trabalhar, portanto, até que se prove o contrário, cidadãos de bem, mas que nem por isso foram poupados.
Depois de mortos, ao invés de um pedido de desculpas, que seria questionável, mas ao menos preservaria um pouco da dignidade dos mortos, tivemos uma tentativa de criminalizá-los, como se o Estado tivesse feito um favor a sociedade em tê-los matado!
Isso me revolta, me enoja, me embrulha o estômago e me faz gritar, dar voz a esses inocentes que hoje foram calados. Dar voz para a Margareth, que nunca mais vai poder dizer ao seu filho o quanto o ama, dar voz ao Dyogo, que nunca mais vai poder comemorar um gol com os amigos, entre tantas outras vozes que foram covardemente caladas.
Em nome dessas pessoas, também gostaria de deixar registrado ao senhor governador e ao senhor presidente, o meu sentimento e o meu desejo a vocês:
O sangue dessas pessoas estarão em suas mãos e em suas almas e ele não vai sair, vocês terão que olhá-lo todos os dias e carregarão “essas e tantas outras mortes que ainda podem acontecer”, carregarão o peso dessa responsabilidade e a culpa por nada terem feito.
Dignidade para assumir eu sei que vocês não têm, mas a Lei do retorno não falha e dela vocês não vão fugir. Não haverá suborno, não haverá provas plantadas, não haverá julgamentos viciados, haverá sim, a própria consciência de vocês os acusando pelo resto da eternidade, pois é isso que vocês merecem, o martírio eterno!
Já que vocês se consideram tão cristãos, rezem, mas rezem muito, pois a caldeira do inferno aguardará por vocês, a todo vapor!
Não precisam se preocupar em mandar a Lei de Segurança Nacional para cima de mim, pois não estou incitando e nem os ameaçando de nada, não preciso fazer isso, porque sei que a vida o fará e disso vocês não vão escapar. Sadicamente falando, espero estar vivo para presenciar esse dia, seus covardes, hipócritas, demônios disfarçados de seres humanos!