Quanta tristeza cabe num olhar…

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Hoje pela manhã, passando pelo centro da cidade, uma cena me chamou a atenção, talvez igual nenhuma outra parecida tenha me chamado ao longo de toda minha vida.

Não sei qual foi a diferença, afinal, infelizmente, ver pessoas em condição de rua é algo que faz parte do dia-a-dia, mas um senhor, sentado na porta de um comércio fechado, comendo alguma coisa num pote de sorvete, me causou um reboliço na alma.

Por um instante nossos olhares se cruzaram, eu saindo, olhei para ele e vi que ele também me olhou. Aquilo me desmontou. Aquele senhor tinha uma tristeza nos olhos que me feriram a alma. Não dá para ter ideia de quanta tristeza havia ali, mas era muita.

O seu olhar era de alguém que carregava o peso do mundo nas costas, um olhar parado, ao mesmo tempo profundo, enigmático, parecia que ele me via por dentro. Pode ser só loucura da minha cabeça, afinal, nossos olhares se cruzaram por segundos, mas essa foi a sensação que fiquei.

Diz o ditado que os olhos são a janela da alma, pois se assim for, a alma daquele senhor era pura tristeza. Tristeza, talvez por sentir na pele o descaso e o abandono, aqueles olhos que pareciam enxergar a minha alma, talvez estejam tão acostumados com a indiferença que se adaptaram a uma nova forma de ver.

Nessa hora, meus problemas pareceram tão pequenos que senti vergonha de mim mesmo. Senti o incômodo de passar por aquele ser humano, simplesmente olhá-lo e ir embora. Talvez, nunca mais o veja, mas aquele olhar vai me acompanhar por um bom tempo, como a me lembrar dos tantos desvalidos que estão abandonados pelas ruas, precisando daquilo que é o mais básico dos direitos de um ser humano, a dignidade.

Talvez esse olhar tenha encontrado também no meu olhar, um pouco dessa tristeza que também carrego, uma tristeza que vem de longe e me acompanha desde sempre e um dos motivos é ver todo esse sofrimento, todos os dias. Fica a pergunta: como ser plenamente feliz, sabendo que ao seu lado existem pessoas nessa situação?

Fica a minha gratidão pela vida que tenho, mas ao mesmo tempo, o desejo que todos pudessem ter, no mínimo, a sua dignidade preservada.

Fica também a pergunta: quanta tristeza cabe num olhar? Hoje eu percebi que isso não se mede…

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