Desonestidade Intelectual

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A desonestidade nunca é uma característica desejável, mas particularmente, creio que a desonestidade intelectual é uma das mais abomináveis, pois é quando a pessoa utiliza exatamente o seu conhecimento, que deveria servir como luz, mas ao contrário, faz propagar a escuridão, aproveitando-se da ignorância alheia.

No mínimo, é covarde, já que em muitos casos, o outro sequer tem chance de se defender, tendo em vista que lhe faltam elementos para contestação e o desonesto, por sua vez, utiliza o conhecimento que tem para tirar proveito dessa situação.

Esse comportamento lastimável não é novo, não é somente “coisa de brasileiro”, mas naturalmente vou falar daqui, pois é aqui que vivo e é aqui aonde vivencio, diariamente, as flagrantes desonestidades nossas de cada dia, que cansam!

Pensando sobre esse assunto, chego a conclusão que essa discussão pode ser um paradoxo, pois para resolver, ou ao menos amenizar essa questão, precisamos urgentemente que a intelectualidade se desenvolva, que o conhecimento se propague e que as pessoas saiam da escuridão da ignorância, pois é exatamente a ignorância que propicia a desonestidade intelectual, que em resumo, nada mais é do que o mau uso do conhecimento que se tem.

Vamos falar de coisas simples, exemplificando esse negócio que parece tão distante da realidade, mas que não é. Boa parte da nossa população desconhece o mínimo das Leis, muitos sequer, em algum momento da vida, tiveram a curiosidade de ler a Constituição ou o Código Civil.

Nesse ponto, creio que falhem as escolas, não porque elas queiram falhar conscientemente, mas porque o próprio sistema é programado para que elas falhem e o cidadão nasce num país, está sujeito as Leis desse país, mas não faz ideia das garantias legais que têm.

Isso dá margem a quê? Aos “espertinhos”, afinal, a história de levar vantagem em tudo é verdadeira. É fato que alguns conhecem as leis, conhecem muito bem, diga-se de passagem, e conhecem também o nível de ignorância da massa.

Dessa ignorância, aflora a covardia intelectual, que é usar o conhecimento e as garantias legais, para forjar situações de desrespeito, de descumprimento gritante das liberdades individuais e dos direitos civis, mas se você não conhece esses direitos, como vai se defender? Aliás, você sequer sabe que precisa se defender!

Certamente você já assinou contratos com os quais não concordava, já aceitou fazer seguros, títulos de capitalização, entre outras benesses, generosamente ofertadas pelo seu banco, já pagou taxas que não precisa pagar, pois não eram de sua responsabilidade, mas que por desconhecer seus direitos, pagou a conta. Esses são alguns parcos exemplos, mas a lista é gigante.

Você acha que um político desonesto desvia tanto dinheiro sendo ignorante? Muito pelo contrário, ele usa de todo o seu conhecimento para criar essas brechas e fazer o povão acreditar que os desvios não têm nada demais, afinal, quem não rouba um pouquinho, não é mesmo?

“Precisamos aumentar impostos para melhorar a arrecadação” é um grande exemplo de desonestidade intelectual, pois faz com que o povo acredite que esse remédio amargo é preciso, mas não é! Como é que se vai aumentar arrecadação se o povo comprar menos?

A manipulação do conhecimento, das Leis e todo o sistema em benefício dos poucos amigos do rei nunca foi tão descarada, por outro lado, que atitudes tomam a própria população para mudar esse cenário?

Particularmente, não acho que as atitudes não são tomadas porque o brasileiro é acomodado ou não está nem aí, mas sim, porque nosso povo está entorpecido pela ignorância, completamente alheio as garantias que têm e, diante disso, se acovarda ao não exigir que seus direitos sejam respeitados.

Vivemos a Era da Informação, nunca tivemos uma quantidade tão grande de informação disponível e de forma tão descentralizada, mas o que acontece com toda essa informação? Fica nas mãos de poucos e a massa fica distraída, com guerras virtuais, entre coxinhas e mortadelas, entre os espetáculos circenses e as migalhas de pães que nos são atiradas.

É comum ouvirmos e até falarmos que a Internet se tornou um lugar hostil , que as pessoas estão cada vez menos tolerantes, só não nos damos conta de que tudo isso é meticulosamente planejado, exatamente para que não tenhamos tempo ou curiosidade para utilizá-la para adquirir conhecimento e nos libertarmos desse mar de ignorância em que estamos nos afogando. Enquanto nos estapeamos com discussões e opiniões sobre absolutamente nada, tudo continua como está, no mais perfeito e absoluto caos, que é a situação desejada pelos desonestos intelectuais, que possuem o controle sobre milhares de vidas.

Você já parou para pesquisar quantos cursos de excelente nível, gratuitos, existem pela Internet? Que você pode aprender um ou mais idiomas na frente do seu computador? Que existem pessoas bem-intencionadas e prontas a ajudar a esclarecer dúvidas, dos mais variados assuntos, muitas vezes, sem custo algum?

Mas ao invés de nos ocuparmos com isso, o que a grande maioria vai fazer? Discutir a cirurgia do quinto metatarso do Neymar, por exemplo, ou falar da bunda da Gracyanne, ou sobre a dieta seca barriga de qualquer outra “famosa”, enfim, somente assuntos de extrema relevância.  Os grandes portais de notícias, exatamente aqueles que têm o maior alcance, só abordam futilidades, discussões inúteis e promovem, cada vez mais a separação das tribos, naturalmente, disfarçadas por uma couraça politicamente correta e de um discurso inclusivo, mas que na prática, só prega ódio e gera divisão.

Você acha mesmo que tudo isso acontece por mero acaso? Pense!

O presidente que vamos eleger no próximo outubro não vai mudar nada, não se iluda, independente de quem ele seja, a única certeza que tenho é que nada vai mudar, podendo piorar um pouco, isso é fato.

As mudanças são graduais, lentas e requerem esforços coletivos. Você consegue ver esse grande esforço coletivo? Então, meu amigo, não se iluda, afinal, a ilusão é exatamente o terreno onde se pretende que a grande massa fique.

As coisas vão começar a mudar no dia em que cada cidadão conhecer seus direitos e deveres, passando a exigir que eles sejam cumpridos, assim como, cumprindo a parte que nos cabe. Não espere que essa mudança venha de cima para baixo, pois isso nunca vai acontecer, tendo em vista que um povo esclarecido não interessa a NENHUM GOVERNO, ao menos, não a nenhum dos que hoje existem nesse país.

Comece a mudança por você, deixe as futilidades da internet um pouco de lado e comece a buscar CONHECIMENTO, pois só informação não basta. Quando eu digo que intempéries climatológicas geram condições adversas, que impedem a formação de nimbos, você tem uma informação, mas você sabe o que fazer com isso? Ou melhor, você entendeu algo? Trocando em miúdos, o que eu disse foi: “a coisa tá feia, não chove!”

A informação, desde os mais remotos tempos da história, sempre foi usada como ferramenta de poder e o conhecimento sempre foi restrito a um pequeno grupo, que fazia uso desse conhecimento em benefício próprio e dos seus. Alguns milênios depois podemos comprovar que pouca coisa mudou, apesar de todo o avanço tecnológico e científico.

Aliás, outro grande paradoxo dos tempos modernos é a tecnologia, que poderia ser a fonte de libertação e descentralização do conhecimento, mas acabou se tornando num instrumento poderoso de alienação coletiva.

Qualquer conhecimento só é válido quando transforma o mundo a sua volta, do contrário, é só mais tijolo de informação acumulando poeira, num canto qualquer.

O processo de massificação e alienação é tão forte, que se você resolve levantar a voz e lutar pelo que é seu por direito, você é tido como chato, como o mala sem alça do pedaço. Chato por saber os seus direitos e exigir que eles sejam cumpridos?

Para mim, chato é ser ignorante e, como consequência, ser obrigado a engolir a vontade dos outros, sendo explorado e manipulado. Se para ser legal é necessário ser ignorante e aceitar, calado, qualquer tipo de sandice, então, prefiro ser chato mesmo, creio que esse papel me cai bem.

Essa briga pelo conhecimento é antiga, remonta há milênios, tanto é que os próprios discípulos de Jesus já retrataram essa necessidade, como João, por exemplo, ao dizer, no capítulo 8, versículo 32: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

Até hoje estamos patinando na busca por essa verdade. Quem sabe em mais uns dois mil anos não chegamos a algum lugar…

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