Diariamente convivemos com despedidas, mas provavelmente, dentre todas as coisas que temos que aprender nessa vida, essa seja a mais difícil.
Confesso, tenho dificuldades com despedidas, talvez por já ter me despedido mais vezes do que gostaria. Despedir-se de algo significa abrir mão do convívio, do abraço, do cheiro, do olho no olho, do toque que acalma a alma.
Como é possível se acostumar com a ausência de algo que nos faz bem? Quisera ter essa resposta…
Acredito que nosso instinto de sobrevivência fala mais alto e, por motivos que a própria razão desconhece, seguimos. De certa forma, vamos aprendendo a conviver com a dor da ausência, o riso volta, a vida segue, mas o vazio continua, pois não se trata de uma peça de reposição, trata-se de uma pintura de Van Gogh, trata-se de algo único, insubstituível.
Ao longo da nossa caminhada nos despedimos muitas vezes, de muitas coisas e nunca fica mais fácil. Chego a pensar que é o universo nos sacaneando, nos punindo, sei lá. Depois, lembro que é o ciclo da vida, enquanto alguns chegam, outros se vão. Forças opostas que mantém o mundo em equilíbrio, ainda que nos desequilibrando.
Penso também naqueles que se foram. De certa forma, deve ser bom saber que deixaram suas marcas aqui, que sentimos a ausência. Triste deve ser o caminho daquele que daqui se vai e não deixa uma única saudade, uma lágrima que seja.
O grande Raul Seixas já comparou a vida a uma viagem de trem, uma viagem para a qual não é preciso passagem ou bagagem. O mesmo ponto que para uns é chegada, para outros é partida.
As lembranças são como as paisagens que podemos ver ao longo de uma viagem, registram os bons momentos, que podem ser muito rápidos, mas ficarão retidos em nossa mente para sempre, nos visitando de tempos em tempos.
As lembranças são as formas que Deus, o Universo ou o nome que você quiser dar, encontraram de manter vivos aqueles que amamos. Talvez isso também explique porque elas nunca diminuem, simplesmente porque o amor não morre.
Elas estarão ao nosso lado para sempre, não sei se como uma bênção, ao manter eternamente vivos aqueles a quem amamos, ou então, como uma maldição, ao nunca dar sossego a nossa mente e coração.
E assim seguimos, nos despedindo diariamente até que chegue o dia em que alguém se despeça de nós também. E que sempre haja alguém para se despedir de nós!
O Trem das Sete – Raul Seixas