Superficialidade de Sentimentos

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Hoje um fato me chamou a atenção nas redes sociais, não que esse fato tenha acontecido somente hoje, muito pelo contrário, é cada vez mais frequente: a superficialidade dos sentimentos e das relações.

Algumas datas são conhecidas pelas trocas de carinhos e afetos entre as pessoas, acho isso válido, afinal o mundo precisa de mais amor, no entanto, com minha visão não muito romântica sobre o assunto, observo muito mais uma superficialidade de emoções e sentimentos do que algo que realmente emana da alma. Vem me chamando a atenção, há algum tempo, o egoísmo humano, que na minha leiga opinião, está chegando a níveis catastróficos e insanos, pois as pessoas, como regra, não estão nem aí para as demais, embora haja todo um mascaramento, mas que sinceramente, não esconde nada.

Sabe o que me faz pensar isso? Eu posso responder que várias coisas, aliás, mesmo coisas pequenas do dia-a-dia vão demonstrando o quanto o ser humano anda “ensimesmado” ou, num termo mais comum, egoísta mesmo. Quando você estaciona o seu carro, seja no estacionamento de um supermercado ou na rua, você toma o cuidado de parar de forma correta para não ocupar mais que o espaço necessário? Quando acaba a sessão do cinema, você se lembra de recolher o lixo que você produziu e jogar na lixeira? Quando você está lanchando com seus amigos ou família, numa lanchonete ou praça de alimentação qualquer, quando acaba você joga seu lixo no local apropriado e deixa o espaço livre e limpo para o outro? Quando você está dirigindo você dá seta quando vai mudar de faixa ou fazer qualquer outra coisa que precise comunicar aos demais motoristas?

São pequenos exemplos que ilustram o quanto as pessoas simplesmente não se importam. Ensimesmadas em suas vidas medíocres, a grande maioria das pessoas passou a sequer enxergar quem está ao seu lado. Como dica, se já não conhecem, leiam o livro ou vejam o filme Ensaio Sobre a Cegueira, do José Saramago. Nossa geração vive um torpor preocupante, pois não sei o que será das gerações futuras. Você pode achar bobagem meus exemplos, mas pense comigo, por que as pessoas deixam seus lixos para os outros cuidarem? Porque cada um deixa ao outro o que de melhor possuem e, no caso dessas pessoas, certamente o que de melhor possuem é o lixo que está dentro delas, que somente são externados pelo lixo físico, mas o que elas estão deixando nas mesas e espaços comuns são os lixos mentais, os lixos de uma personalidade deturpada e incapaz de se preocupar com qualquer outra pessoa que não elas mesmas. Nem me venha com aquela desculpa típica de toda pessoa sem educação, que é a de que deixa o lixo para dar emprego para o pessoal da limpeza, pois acredite, o mundo não gira em torno de você e eles teriam outras coisas para fazer, ainda que você não fosse tão sem educação e cuidasse ao menos do lixo que produz. Minha resposta para essa situação é sempre a mesma: morrer para dar emprego ao coveiro ninguém quer?

As pessoas, por uma convenção social, até perguntam como você está, mas você já reparou que ninguém quer ouvir a resposta? Se você ousar começar a falar, tenha a certeza de que um balãozinho mental vai aparecer no seu interlocutor e estará escrito: NOSSA, QUE CARA CHATO! São meras formalidades, eu pergunto por perguntar, você responde por responder, eu acredito que estou sendo educado e você tenta se convencer de que está tudo bem e, dessa forma, vivemos a superficialidade nossa de cada dia. Não estou dizendo que acho que todo mundo tenha que ficar contando sua vida inteira para todos que perguntam, mas por questão de educação, se você perguntou, ouça a resposta! Caso não queira ouvir, assuma sua falta de educação e sequer pergunte.

Outra forma muito comum de egoísmo: eu pergunto, você responde, mas imediatamente eu acho um problema maior que o seu, afinal, o seu sentimento NÃO ME INTERESSA. Muitos só perguntam do outro, porque na verdade, querem ter a abertura para falar de si mesmos. E quando, seja por qual motivo for, você está sofrendo com algo e vem o outro te dizer que você tem que aceitar, tem que entender, tem que isso, tem que aquilo. Tenho mesmo? Por que? Será que isso também não é uma forma disfarçada do nosso egoísmo? Aceite seus problemas, pois assim você para de reclamar e eu não preciso cuidar de você! O tempo todo nós estamos tentando moldar o outro a nossa forma de agir e pensar, mas normalmente essa moldagem vem acompanhada de uma fala muito sutil e polida, cheia de um pseudo altruísmo, que tenta disfarçar a única preocupação que importa: o meu bem estar! Esses são alguns exemplos, entre incontáveis outros que poderia citar.

Naturalmente, que todo esse processo pode não ser consciente, aliás, muito do que aqui eu estou escrevendo ocorre no campo do subconsciente, mas precisamos ficar atentos aos sinais do nosso verdadeiro EU, pois raramente nós somos aquilo que falamos, somos aquilo que pensamos e que sentimos, o que falamos é o que os outros querem ouvir, é o que a sociedade aceita, mas tenho essa convicção, raramente o que externamos por palavras é aquilo que realmente somos. Quantas vezes você estava com a cabeça a mil, pensando em outros tantos mil xingamentos, mas apenas respondeu: “tudo bem”.

Viver em sociedade é uma arte das mais delicadas. É claro que todos nós temos um pouco dessas posturas, afinal, se todo mundo falasse exatamente tudo o que pensa, o convívio social seria impossível, mas novamente, atenção aos sinais e cuidado com os exageros.

Voltando ao início desse texto, o que me chamou a atenção hoje foi a superficialidade nas redes sociais sobre o Dia dos Amigos. É tão fácil colocar um post sobre isso, desejar um feliz dia dos amigos, fiz isso também, relutei um pouco mas fiz, mas fiquei me questionando sobre o que eu tinha feito. Eu não preciso desejar um feliz dia do amigo, eu preciso ser um bom amigo e amigos de verdade são poucos. Não vamos confundir relações meramente sociais com amizades, pois estas são muito mais profundas, por isso, são poucas.  Amizade é doação, é desprendimento, é amar o outro tal qual você ama a si mesmo e, diante do que vivemos em nosso dia-a-dia, talvez, nunca antes, essas felicitações tenham soado tão superficiais.

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