Jeitinho brasileiro – tem jeito?

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Hoje vamos falar um pouco do tão valorizado, quase um patrimônio nacional: o jeitinho brasileiro.

Há quem se orgulhe do jeitinho do brasileiro, que o considere como algo que valoriza a criatividade do nosso povo em resolver problemas, sempre buscando soluções inesperadas. Resolvi desconstruir esse mito. Sim, sou um chato e não, não suporto esse jeitinho.

O jeitinho é a forma que o brasileiro adotou para tudo, não precisa se preocupar com muita coisa, não precisa entender muito, afinal, somos brasileiros, somos os reis do jeitinho e isso resolve tudo. Pois é exatamente esse pensamento medíocre que nos aprisiona numa das maiores crises da história. Dessa vez nem vou entrar em questões políticas, já falei muito sobre isso, aqui vou me ater ao jeitinho e seus adoradores.

 

Segundo Laudon, um dos autores referência quando o assunto é o estudo dos sistemas de informações gerenciais, toda vez que você tem um problema para ser resolvido, você deve seguir esses quatro passos. Falarei, muito brevemente, sobre cada um deles:

  1. Inteligência: Essa é a fase de realmente entender o problema, pois não dá para pensar numa solução inteligente se você sequer entendeu realmente o problema que tem nas mãos. Sabe aquela coisa de que a culpa é do fulano, do ciclano, do Pedro, do Paulo, da Lua, do Horóscopo? Pare e analise o problema de forma racional e, somente assim, você vai entender realmente o mal que te atinge.
  2. Concepção: Agora que você já entendeu realmente o problema é a hora de pensar nas possíveis soluções para ele. Pense, repense, anote, questione todas as variáveis desse problema e analise várias possibilidades, afinal, para qualquer problema sempre existem várias formas para resolvê-lo. Tanto isso é verdade que quem está de fora sempre chega com uma solução brilhante para o seu problema, embora, normalmente, não veja nenhuma para o dele mesmo. Analise muito bem todas as possibilidades.
  3. Seleção: Agora que você tem várias opções de solução, escolha qual é a alternativa mais viável, aquela que melhor se adapta ao seu problema e que pode trazer mais benefícios. É o momento de ponderar todos os prós e os contras e fazer uma escolha.
  4. Implementação: É a aplicação da solução e a checagem para saber se os resultados obtidos estão de acordo com as expectativas, ou seja, a solução que eu escolhi realmente foi a melhor? Se não for, volte para a etapa 2 e recomece.

Essa lógica é aplicada a sistemas de informações, ou seja, faz parte da lógica tecnológica para desenvolver e implementar soluções de software, mas convenhamos, é uma lógica que pode ser aplicada a qualquer situação da nossa vida. Digamos, na verdade, que esse foi um conceito de gestão que foi emprestado pela área tecnológica, mas que serve para qualquer problema.

Chamo a atenção para um detalhe: por acaso, em algum lugar, você viu uma etapa chamada “jeitinho”? Pois é, provavelmente porque ela não tem fundamentação alguma!

O jeitinho é tão somente uma invenção para tentar, estupidamente, consertar a falta de estudo sério e de planejamento! Se você se planejou, não precisa de jeitinho, se você estudou, não precisa de jeitinho, se você realmente aprendeu como se faz algo, não precisa de jeitinho. Jeitinho é a forma encontrada para burlar a leis, as normas e procedimentos, ou seja, para sair daquilo que é o certo, é uma forma “educada” de dizer que somos incompetentes para fazer o que é o certo. Toda vez que ouço alguém falando que vai dar um jeitinho, não tenho dúvidas, é incompetente. Resumindo, o jeitinho é a solução para a estupidez, para a falta de comprometimento e para o desleixo!

Jeitinho não é motivo de orgulho, é motivo de vergonha, pois ser relapso nunca é motivo para orgulho. O brasileiro, via de regra, adora confundir as coisas, principalmente quando isso lhe convém e não vamos confundir criatividade com jeitinho. Só é criativo quem é inteligente, quem conhece muito bem a situação com a qual está lidando, quem estudou o problema e com isso, consegue achar uma solução criativa, mas reforçando, isso é outra coisa muito diferente do improviso. A criatividade nasce do comprometimento, do estudo sério, da busca constante pelo aperfeiçoamento das práticas, e mais uma vez, sendo prolixo mesmo, isso NÃO É JEITINHO!

Enquanto venerarmos o jeitinho, veneraremos a ignorância, a estupidez, a falta de dedicação, portanto, veneraremos a mediocridade que impera em nosso país! Enquanto adorarmos o jeitinho e o acharmos bonito, motivo de orgulho, também poderemos continuar nos orgulhando do nosso próprio fracasso!

A criatividade provém da inteligência e estimula o crescimento enquanto o jeitinho provém da estupidez e estimula a mediocridade! Para onde vamos?

 

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