Vivemos um período de crise ética e moral que, talvez, possa somente ser comparado a era da barbárie. Os desvios de conduta, os novos padrões comportamentais que estamos criando são extremamente perigosos e, ao que me parece, isso está sendo relegado ao completo descaso, não só pela população, mas pelos principais responsáveis, em tese, de manter a ordem pública.
Os fatos políticos que temos visto nesses últimos meses são extremamente preocupantes e nos remetem a uma reflexão muito mais profunda: o que estamos fazendo com o nosso futuro, com o futuro das próximas gerações e com o futuro de toda uma nação?
Confesso, tenho medo da resposta. Sou conhecido pelo meu pessimismo e ceticismo político, mas vislumbro um futuro muito pior ao momento trevoso que estamos vivendo. Os otimistas dizem que isso é o início de um processo de limpeza e, embora eu realmente torça para que os otimistas estejam certos, particularmente não acredito nisso, muito pelo contrário, vejo que estamos mergulhando numa das maiores crises éticas e morais da nossa história recente, crise essa que vai custar muito caro, vai custar muitas vidas, vidas essas que serão perdidas pela falta do básico necessário à sobrevivência, aliás, isso já pode ser observado, basta querer ver.
Eu sei, não é uma mensagem de esperança para o final do ano, mas também não sei fazer de conta que nada está acontecendo. Quer saber por que penso assim? Então, paciência que vou explicar.
Quando estamos educando uma criança, um filho, qual é uma das principais preocupações que devemos ter em mente? Eu respondo, nosso exemplo. Não adianta falar para o filho fazer uma coisa e, depois, fazer outra, como por exemplo, falar para o filho que não se pode mentir, mas quando a campainha toca, virar-se para ele e dizer para que atenda e fale que não estamos.
Desde a minha infância, seja nas aulas de religião, no convívio familiar ou na escola, aprendi coisas que acabei incorporando à minha forma de ser e de agir, portanto, posso dizer que passaram a fazer parte da minha moral, pois são crenças, valores e comportamentos que adotei como verdadeiros e, segundo os quais, norteio minhas ações.
Aprendi, por exemplo, que não se deve roubar, que isso era errado. A religião me ensinou que isso era pecado e que eu poderia ser castigado, já a ética, me disse que se apropriar de algo que não era meu, também era errado e que, ao fazer isso, eu estava prejudicando o outro. Diante disso, sempre tive em minha alma que roubar era algo que eu não faria, seja porque a religião dizia que era pecado, seja porque a ética dizia que isso estaria prejudicando alguém e, com isso, minha moral foi se construindo.
Outra coisa que aprendi é que deveríamos confiar na Justiça, seja na Justiça Divina ou na dos homens, mas que essa era a única forma de garantir a igualdade, pois a Justiça era única para todos, que ela zelava pela ordem pública, estabelecia Leis que todos, sem exceção, deveriam seguir. Aprendi que não caberia contestar uma decisão da Justiça, fosse ela de Deus, pelas Leis religiosas ou da Lei dos homens, pois uma decisão da Justiça somente poderia ser cumprida e não discutida, até porque, as decisões da Justiça eram baseadas no interesse público maior, portanto, sempre estavam acima das minhas necessidades pessoais e esse era exatamente o papel da justiça: ZELAR PELO BEM DA MAIORIA, ZELAR PELA ORDEM PÚBLICA, ZELAR PELO BEM ESTAR DE TODOS.
Falo por mim, mas acredito que muitos da minha geração também aprenderam a mesma coisa e possuem esses valores morais e princípios éticos como verdadeiros, mas algo deu errado, muito errado!
Por que eu contei essa história toda? Para desenhar mesmo. Vamos agora aos fatos:
Roubar é errado. Será mesmo? A grande maioria dos políticos rouba, desvia quantias inimagináveis dos cofres públicos, faz com que Municípios, Estados e mesmo o País, mergulhem numa das maiores crises financeiras da nossa história. Pessoas honestas, trabalhadoras, ficam sem assistência na saúde, na educação, na moradia e, por mais triste que pareça, passam fome e tudo isso porque um grupo de pessoas achou certo roubar, mas roubar muito, muito mesmo. Esse grupo achou que só eles precisam ter saúde, só eles precisam desfrutar de tudo o que de bom existe no mundo, sem se importar com quem sente fome e não tem o que comer.
Diante disso, você deve estar pensando que a Justiça está tomando alguma atitude. Sim, existem movimentos aqui e acolá no sentido de garantir a ordem pública, no entanto, os responsáveis máximos pela Justiça Brasileira se calam diante desses crimes. Ficam nove, dez anos com um processo parado na gaveta, adiam ao máximo os julgamentos, de preferência até que o crime prescreva e nada mais possa ser feito. Nossos guardiões da justiça se calam num silêncio de cumplicidade, de conivência com o crime e nos fazem sentir que estamos relegados tão somente a nossa própria sorte. Mas qual sorte?
O que quero dizer com tudo isso é que estamos, nesse exato momento, fazendo história, mas isso não é motivo para orgulho, pois a história que estamos escrevendo será lida com muita vergonha num futuro próximo. Essa história será um capítulo muito amargo do nosso país, um capítulo que sentiremos vontade de arrancar dos livros.
Estamos “educando” uma nova geração de indivíduos e dizendo a eles que roubar pode até não ser certo, mas que o crime compensa e que o mundo é dos espertos. Estamos criando uma geração que não respeitará mais as Leis, pois estamos exemplificando a elas que as Leis só existem para os menos afortunados e que os ricos e poderosos, podem pisar nas Leis, na Constituição e nada acontecerá. Diante disso, esses nossos jovens e o futuro do país, farão de tudo para serem ricos e poderosos e o caminho estará liberado, sem qualquer escrúpulo, pois os fins justificam os meios. Quando se rouba um alimento para saciar a fome a Justiça é implacável, mas quando se rouba bilhões, subtraindo o direito do outro comer, isso é tolerável. Esse é o valor que estamos deixando de legado, isso é o que estamos dizendo que é moralmente aceito, esses são os novos valores éticos que estamos escrevendo nesse exato momento.
Não vai adiantar falar para essa geração que eles devem respeitar, pois todos os dias eles estão vendo que a falta de respeito não gera nenhuma consequência. Não vai adiantar falar que roubar é errado, pois eles estão vendo que o crime compensa, compensa inclusive com mansões, sítios, joias e tudo o que de bom o dinheiro pode proporcionar e que se o “bicho pegar”, basta entregar mais alguns companheiros de roubo e que sua pena será praticamente extinta.
Estamos criando uma geração sem princípios éticos e, em consequência, sem nenhuma moral. Estamos criando a geração mais egoísta da história, egoístas que colocam, como todo bom egoísta que se preze, o seu bem-estar acima de qualquer coisa. Nada mais importa, nada mais tem sentido, nada mais tem valor a não ser o interesse próprio e, diante disso, roubar, matar e qualquer outro crime que se pense, serão apenas os meios para justificar os fins. Em breve, serão milhões pensando e agindo dessa forma. Você já parou para pensar no poder destrutivo dessas ações?
Antes que você já venha argumentar, não se iluda, você como pai, mãe, professor, pode fazer o melhor trabalho, mas você será um peixinho de aquário lutando contra a correnteza de um oceano. O risco é alto, pode até ser que você salve alguns, mas a grande e esmagadora maioria vai seguir a correnteza.
Nossas autoridades parecem ignorar esses valores e esses princípios, até falam no fortalecimento da democracia, mas soa mais hipócrita do que o pai que fala para o filho não mentir, mas que pede para falar que ele não está em casa quando alguém lhe bate à porta.
Exatamente nesse momento estamos destruindo qualquer esperança de um futuro melhor, ao menos nas próximas quatro ou cinco gerações. Admiro o otimismo dos que acham que tudo está sendo passado a limpo. Admiro mesmo, mas não tenho esse otimismo.
A coisa está ruim hoje, pois eu lhe digo, vai piorar. Não estamos no fundo do poço, mas vamos chegar, pois caminhamos a passos largos para esse fundo, mergulhamos de cabeça, sem qualquer medo do que está lá no fundo nos esperando. Chegaremos ao ponto da extrema miséria, voltaremos ao ponto em que pessoas vão morrer por uma simples gripe, pois faltará tudo. Veremos, num futuro muito próximo, cenários de total destruição, muito semelhantes aos da guerra, pois o caos está se instaurando, lentamente e estamos deixando.
Isso não é uma profecia, fique tranquilo, trabalho somente com lógica. Tenho 41 anos e digo tudo isso analisando as últimas décadas, analisando a degradação ética e moral na qual mergulhamos há anos e que foi, sorrateiramente, corroendo nossos princípios mais sagrados e não fizemos nada. O resultado está aos olhos de quem quiser ver. Se nada for feito agora, em caráter de urgência, o que te faz pensar que a melhora vai chegar?
Não me importo com as críticas que virão sobre essa minha fala, é o que penso. Saiba que espero estar errado, terei o maior prazer em, daqui alguns anos, publicar outro texto me desculpando pela tamanha besteira que hoje escrevi, seria o erro que eu sentiria muito orgulho em admitir e digo isso de coração. Não me alegra, de forma alguma, ter essa consciência, pelo contrário, é uma tristeza que toma conta da minha alma e me rouba as energias, pois é triste ver o caminho que estamos tomando, sem qualquer reação, ainda que por instinto de defesa, mas nem isso.
As soluções não são simples, talvez, nem mesmo pacíficas, mas são urgentes e necessárias. O silêncio e a apatia de cada um de nós também são sinais de conivência com todo esse caos. Demoramos décadas para chegar ao caos de hoje, portanto, não espere que um estalar de dedos nos tire daqui, mas uma hora essa mudança tem que ser iniciada, isso se quisermos voltar a ter esperança de construir um futuro melhor a quem aqui estiver. Nós não colheremos os frutos disso, mas já que não vamos colher, ao menos vamos plantar e deixar uma semente de esperança para as gerações futuras, vamos tentar deixar um legado menos sombrio do que o que hoje recebem nossos filhos.